30 de janeiro de 2006

Vila Flor, a eterna Aldeia de Gramació

Construída em 1743, a “Casa de Câmara e Cadeia” é um importante exemplar arquitetônico e histórico do Rio Grande do Norte.

Texto e foto: Alexandro Gurgel

“Abandonada e semi-deserta, Vila Flor resistiu como um fantas, teimando em residir nas ruínas da casa em que vivera. Criaram uma escola em 1882. Em novembro de 1890 foi distrito de Canguaretama. Ao derredor, a vida continuava, plantando, colhendo, sonhando... Cento e cinco anos depois, ressuscitou... Em abril de 1940, passou a denominar-se “Flor”, inexpressivo, banal, anti-histórico, felizmente anulado pela lei restauradora do município, restituindo-lhe o antigo nome de Vila Flor”. (Câmara Cascudo, in Nomes da Terra. Editora Sebo Vermelho).

Um dos primeiros núcleos colonizados por portugueses no Estado do Rio Grande do Norte foi a Aldeia Gramació. Segundo o historiador Câmara Cascudo, no livro “Nomes da Terra” (Sebo Vermelho Edições), depois do alvará em forma de lei, em setembro de 1700, os indígenas receberam uma légua quadrada e foram aldeados sob administração de missionários jesuítas. Situada à margem esquerda e acima uma légua da Barra de Cunhaú, instalou-se a Aldeia Gramació, com caboclos, índios tupis e colonizadores portugueses.
Ainda de acordo com o Mestre, o nome Vila Flor surgiu em obediência as instruções que impunham designações de localidades portuguesas às novas Vilas, como Estremoz, Arez e Portalegre. “Vila Flor é conselho do distrito de Bragança em Trás-os-Montes”, escreveu Cascudo.
Vila Flor tinha crescimento amplo na industria açucareira, aproveitando as terras úmidas da região. Nessa localidade viveu a família Albuquerque Maranhão, uma oligarquia centenária. Conforme Cascudo, André de Albuquerque Maranhão, primo e cunhado do homônimo, chefe da Revolução de 1817, foi Capitão-Mor de Ordenança de Vila Flor e Arez, embora residisse em Estivas.
Nos idos de 1743, foi construída a “Casa de Câmara e Cadeia”, importante exemplar arquitetônico e em 1745, foi edificada a histórica Igreja de Nossa Senhora do Desterro, construída pelo frei jesuíta André do Sacramento.
A aldeia Gramació foi elevada a vila com o nome de Vila Flor, em obediência à Carta Régia de 3 de maio de 1755, que transformava em vilas os antigos aldeamentos indígenas. O nome foi uma homenagem feita à um distrito de Bragança, em Portugal.
A instalação da nova vila foi feita apenas em 1769 pelo Dr. Miguel Carlos Caldeiras Castelo Branco. Nessa época, Vila Flor já experimentava um bom nível de desenvolvimento econômico, motivado por sua força na agricultura, com destaque para a produção de cana-de-açúcar.
No ano de 1858 ocorreu a expulsão dos missionários jesuítas e a transferência da sede da localidade para o povoado de Uruá, que foi elevado a categoria de vila, vindo a se tornar município de Canguaretama.
Em 1940, o povoado passou a se chamar Flor e, em dezembro de 1963, por força de Lei, desmembrou-se de Canguaretama, tornando-se um novo município do Rio Grande do Norte, recebendo seu antigo nome: Vila Flor.
Vila Flor está localizada na Região Agreste do Estado, distante 83 quilômetros de Natal, onde vive uma população de aproximadamente três mil pessoas. A economia do município é baseada na pecuária e no plantio de cana-de-açúcar. Os trabalhos de confecção de cestas de esteiras, utilizando a fibra-de-coco e a palha de carnaúba, são os destaques do artesanato local.
Vila Flor ainda oferece ao visitante a história potiguar estampada na Igreja de Nossa Senhora do Desterro, no prédio da antiga Casa de Câmara e Cadeia e na Fortificação dos Sete Buracos. No município é visível o crescimento do eco-turismo no Rio Catú, na Mata Atlântica, no Sítio Arqueológico e no Mirante Cabo do Bacopari.
O folclore de Vila Flor está representado com manifestações de Fandango e da Nau Catarineta, danças portuguesas, e são apresentadas durante as comemorações na festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora do Desterro, no dia 06 de fevereiro.

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