13 de fevereiro de 2006

Falsa flatulência

Por Leonardo Sodré

Semana passada o sociólogo e fotógrafo Karl Alho Leite viajou para o sertão seridoense com o objetivo de realizar algumas fotos para a Fundação José Augusto. Depois de visitar várias cidades, terminou chegando em Acari. Mas, tinha que tirar fotos de umas obras do escultor Dimas Ferreira e deslocou-se para as margens do Gargalheiras, onde no caminho encontrou o confrade Hugo Macedo, de férias desde o Natal de 2004, que placidamente caminhava ao longo da estrada fotografando umas formigas, gaviões e cobras. No meio de um sol de rachar, o papo começou:

-E aí mister Karl, que fazes por aqui?

-Vim fazer uns trabalhos para a fundação. E você, continua fiscalizando a natureza?

-Hugo pensava, enquanto respondia: “vige, quer dizer que finalmente ele está dando duro...” Pois é né?... Alguém tem que fazer isso. Vamos almoçar lá em Dudé? Mandei ele fazer uma galinha á cabidela, com muito sangue, daquele jeito que Dunga gosta em dia de aniversário. Vamos?

-Só se for agora! Tomara que ele tenha uma cervejinha gelada...

Instalados na providencial sombra do restaurante, já ouvindo umas serestas matutinas cantadas pelo artista Tatá e defronte a umas cervejas geladas, o papo reiniciou, enquanto degustavam a gordurosa galinha:

-Hugo, – provocou Karl – naquele sábado da sua cagada involuntária, que lamento por ser tratar de uma tragédia pessoal, não pude ir ao Beco da Lama. Mas você terminou se saindo bem, não foi?

Como Karl fala meio alto, alguns presentes começaram a prestar a atenção na história. Hugo olhava para o espelho formado pelo Açude Gargalheiras, triste, quando respondeu:

-Foi constrangedor! O prejuízo material foi apenas da cueca que tive que jogar fora – falava e limpava a gordura da galinha que se acumulava na sua barba – porque ficou imprestável. Tão imprestável que dona Nazaré mandou cimenta-la lá na construção do supermercado. Karl, meu caro, foi foda! Eu pensei que era apenas um peidinho. Arrumei-me na cadeira, e mirei para o lado de Seu Milton, que não escuta muito bem, e pumba! Quando dei por mim, estava como agora, todo cagado! Adeus!

Karl estava com os olhos arregalados e com o nariz vermelho de fedentina. Nem conseguia ver Hugo, que desaparecia no meio da estrada, num rastro de poeira. Alias, dois rastros porque outro ele deixou ao longo do piso do bar, bem marronzinho.

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