14 de junho de 2006

Um dia para Joyce e sua obra


Será que o escritor irlandês James Joyce quando escreveu sua própria ‘‘odisséia’’ intitulada de Ulysses (publicado na França, em 1922), e que conta um único dia na vida dos personagens Stephen Dedalus e Leopol Bloom, imaginou que todo dia 16 de junho, depois de alguns anos passasse a ser o Bloomsday? Bom, se um dos precursores da literatura moderna, pensou isso, não se sabe. Mas, o que é certo mesmo é que Joyce é um dos escritores mais lidos, admirados e estudados em todo o mundo. E, de acordo com o professor doutor de pós-graduação do Departamento de Letras da UFRN, Francisco Ivan, ele sabia o que estava fazendo. Segundo Ivan, certa vez, Joyce teria dito para sua mulher ‘‘eu vou dar trabalho aos meus leitores pelo menos durante uns 300 anos’’.

E pelo jeito, a ‘‘profecia’’ está se concretizando.O Bloomsday em Natal já é comemorado há pelo menos 10 anos, sempre sob a tutela do professor Francisco Ivan e outros admiradores. Este ano, a festa será antecipada para hoje, no Museu Câmara Cascudo, às 19h30 com abertura da exposição Bloomsday 2006, na qual haverá o colóquio - ‘‘Joyce e o Romande Moderno’’ -, um recital além de registros e obras que mostram a vida do escritor, e que ficará aberta à visitação até 30 deste mês. A promoção é do Núcleo de Arte e Cultura (NAC), que é dirigido por Sônia Othon, em parceria com Francisco Ivan, J. Medeiros e Falves Silva.

Participarão do colóquio de logo mais, os professores Antônio Eduardo de Oliveira, João da Mata Costa e Francisco Ivan. E o recital A última hora de Ulysses contará com atrizes recitando as últimas linhas do revolucionário livro de Joyce em italiano, espanhol, francês e português. ‘‘Estamos com mais de 10 anos de Bloomsday e isso é uma dádiva dentro da Universidade, que abre as portas para um escritor difícil, estrangeiro, deixando Natal em sintonia com outras grandes cidades. Quando nós começamos eu tinha de explicar o significado do livro. Hoje não tem mais isso.

Além de organizadores, nós temos um público ávido’’, comemora Francisco Ivan. De acordo com Sônia Othon, esse ano o NAC resolveu organizar o Bloomsday de uma ‘‘forma mais integrada’’ tendo em vista que o Núcleo é o órgão encarregado de trabalhar a arte e a cultura dentro da Universidade. ‘‘E nós estamos abrindo a sala de exposições temporárias do Museu Câmara Cascudo, que fica no primeiro andar daquele prédio, com o Bloomsday’’, diz Othon.

Um pouco sobre Joyce
James Joyce publicou em 1922 o livro Ulisses, um romance sobre um dia vivido em Dublim, na Irlanda, pelas personagens Stephen Dedalus e Leopold Bloom. Na obra, eles saem em 16 de junho de 1904 em uma jornada épica na referida cidade. Nascido, em 2 de fevereiro de 1882, nos subúrbios de Dublin, no seio de uma família católica de comerciantes, aos seis anos de idade juntou-se a um colégio de jesuítas, mas devido a problemas financeiros e a falência decretada pela família Joyce, foi forçado a abandonar os estudos.

Mais tarde, aos nove anos, beneficiando de uma bolsa, é inscrito no Jesuíta Belvedere College. Já naquela época mostrava os primeiros dotes para a escrita. Em 1902, tem licenciatura em línguas modernas, e parte para Paris para dar início aos seus estudos em medicina. Em 1904, um dos acontecimentos biográficos mais importantes da vida de Joyce toma lugar: ele conhece Nora Barnacle, a mulher que viria a ser a sua amante, companheira e inspiração para o resto da sua vida. Não acreditando na instituição do casamento, e impedido pelas convenções de viver com Nora sem estarem casados, ambos abandonam Dublin e partem num auto-imposto exílio para a Europa, primeiro para Zurique, mais tarde para Roma.

Texto publicado no Diário de Natal, em 14 de junho de 2006.

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