9 de agosto de 2006

Academia elege novos imortais

Foto: Eduardo Felipe
Os novos imortais, que por tradição não podem comparecer à votação, foram eleitos pela unanimidade dos acadêmicos.

Por Alexandro Gurgel
Na última segunda feira, os imortais potiguares se reuniram para eleger três novos membros da Academia Norte-rio-grandense de Letras. Em torno da grande mesa da sala Manoel Onofre, por unanimidade, foram eleitos os confrades: América Fernandes Rosado, José Hermógenes e Diva Cunha. Todos foram eleitos por unanimidade.

A eleição começou no final da tarde com os membros presentes votando e, em seguida, fazendo a apuração dos votos. Depois de realizado o pleito eleitoral, o presidente da ANL, Diógenes da Cunha Lima, declarou eleitos os candidatos por maioria de votos.

Respeitando uma tradição da Academia, os candidatos não compareceram para acompanhar a votação. De acordo com o jornalista e imortal Nilson Patriota, a ausência dos candidatos evita uma “boca-de-urna” de última hora. Conforme o jornalista, uma outra tradição dá o direito ao eleito escolher o dia da posse.

A escritora mossoroense dona América Rosado ocupou a cadeira nº 38, pertencente ao grande baluarte da literatura potiguar, Vingt-un Rosado, seu esposo e companheiro de vida literária. A cadeira nº 20, pertencente a Dorian Jorge Freire, foi ocupada pelo professor José Hermógenes e a poeta Diva Cunha foi eleita para preencher a cadeira nº 30, que pertencia ao escritor Aluízio Azevedo.

Segundo Élder Heronildes, escritor mossoroense ocupante da cadeira nº 37, a presença de América Rosado Maia na cadeira de Vingt-un representa uma tradição literária mossoroense. “Como costuma dizer o nosso presidente Diógenes, Vingt-un era uma força da natureza. Dona América também dispõe dessa energia natural que contagia todos”, completou.

Mesmo diante de uma eleição atípica, onde foram escolhidos três novos imortais no mesmo dia, a Academia Norte-rio-grandense de Letras ainda dispõe de três vagas a ser ocupadas até o dia 14 de dezembro, quando a ANL completará 70 anos de existência. As cadeiras vazias, ainda sem postulantes, foram deixadas por Aluízio Alves, Olavo de Medeiros Filho e Maria Eugênia Montenegro.

Padrão acadêmico
Esta tradicional instituição remonta ao final do século XIX, quando alguns escritores e intelectuais brasileiros desejaram criar uma academia nacional. Fundada por Luis da Câmara Cascudo, a Academia Norte-rio-grandense de Letras tem 40 cadeiras, que devem ser preenchidas pelos maiores nomes da intelectualidade do Estado. Segundo Diógenes da Cunha Lima, o modelo acadêmico foi copiado da Academia Francesa de Letras, que também é o padrão das Academias Brasileiras de Letras em todo o país.

Há sempre um patrono, que foi o primeiro escolhido e deve orientar seus sucessores. “Se diz que o membro é um imortal por uma razão muito simples: toda vez que um acadêmico morre, seu sucessor vai estudar a obra”.

Para ser um imortal, o candidato deve ter tido um comportamento exemplar ao longo da vida, respeitando a ética e mantendo a moral elevada. “Os membros devem ser cidadãos de reputação ilibada. Ninguém poderá concorrer à Academia se tiver, contra a pessoa, acusações de um comportamento repreensivo”, disse o presidente da ANL. Outro pré-requisito para entrar na Academia é ter publicado pelo menos dois livros.

Os eleitos tomam posse em sessão solene, nas quais todos os membros vestem o fardão da Academia. Nesse momento, o novo membro pronuncia um discurso, onde tradicionalmente se evoca o seu antecessor e os demais ocupantes da cadeira para a qual foi eleito. Em seguida, assina o livro de posse e recebe das mãos de dois outros imortais o colar e o diploma.

A cerimônia prossegue com um discurso de recepção, proferido por um confrade, referindo os méritos do novo membro.

Perfil dos imortais eleitos segundo o presidente da ANL, Diógenes da Cunha Lima:

América Rosado - “A viúva de Vingt-un Rosado, que ao seu lado, trabalhou a vida inteira para construir a Coleção Mossoroense. Ela sempre deu suporte à obra de Vingt-un. A legítima parceira na pesquisa, na forma, na publicação, na luta dele em favor da cultura norte-rio-grandense. Sem ela, tudo seria impossível. Para que se tenha uma idéia da importância de dona América Rosado para a Academia, quero dizer que nenhuma cidade brasileira tem a bibliografia de Mossoró que ela ajudou a construir. A eleição de dona América Rosado é o reconhecimento que Mossoró é a cidade da cultura literária do Rio Grande do Norte”.

Diva Cunha - “Uma das maiores poetizas do Nordeste. Quando Diva Cunha escreve, há momentos de grandeza literária. Ela faz uma ponte emocional, lírica, entre as pessoas. Diva Cunha fez cursos de pós-graduação na Universidade de Barcelona, na Espanha, tem mestrado em Letras, é professora da UFRN e tem um trabalho literário notável junto com a professora Constância Lima Duarte sobre as mulheres potiguares escritoras. Escrevendo sobre a literatura potiguar, pouca gente atingiu um nível de objetividade, simplicidade e clareza, numa visão panorâmica das nossas letras. Diva Cunha é uma conquista da Academia”.

José Hermógenes - “Um homem iluminado. Ele trabalha com yoga há muito tempo e tem mais de trinta livros publicados. Natalense, morando no Rio de Janeiro, mas sempre vem a Natal. O professor Hermógenes é conhecido em vários lugares do mundo, tendo seus livros sido traduzidos em várias línguas. Ele é ex-militar, tendo dedicado sua vida para a construção de um mundo mais feliz para as pessoas através da yoga. Hoje, a Academia reconhece o trabalho do professor Hermógenes em favor do cidadão”.
Matéria publicada n'O Mossoroense, em 09 de agosto de 2006.

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