24 de setembro de 2006

Da pedra bruta do Gargalheiras brota as esculturas de Dimas Ferreira

Foto: Alexandro Gurgel
Dimas Ferreira e sua escultura de Lampião.


Por Alexandro Gurgel
Meio-dia em ponto. O sol estava a pino. Todo era refletido à luz reluzente do calor seridoense, num dia de agosto sem nuvens. A pedreira, em que Dimas trabalhava, cegava se olhasse de frente. Era preciso acostumar a vista para descobrir a silhueta na pedra com a forma do cangaceiro Lampião.

Transformando rochas em arte, o escultor Dimas Ferreira trabalha as margens do açude Gargalheiras, onde encontra a pedra bruta de granizo para suas esculturas. Nascido e criado em Acari, Dimas aprendeu a fazer sua arte quando trabalhava como “quebrador de pedras” para fazer paralelepípedos. “Um dia vi uma pedra que dava para fazer uma cabeça de gente. Fiz e deu certo”, confessa.

Em junho último, Dimas Ferreira ganhou o Prêmio Cultural Diário de Natal, recebendo o troféu “O Poti” no palco do Teatro Alberto Maranhão, em Natal, pelo reconhecimento de sua obra. “Eu não esperava ganhar o prêmio, fiquei muito feliz. Agora, vou trabalhar mais animado”, disse o escultor, prevendo o aumento das encomendas. O artista fica feliz em dizer que sua arte está em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Natal e até na Europa.

Dimas é um autodidata. Há 14 anos no ofício, ele nunca tinha visto ninguém esculpir peças em outros materiais. Por sua atividade incomum, o artista é obrigado a confeccionar suas próprias ferramentas de trabalho. Com base no formato que tem a pedra, Dimas vai esculpindo o granito, buscando formas de animais ou pessoas. Quando abordado por este papangunista, debaixo de um sol escaldante, o artista trabalhava numa escultura de um Lampião, em tamanho natural, que lhe empenhava o trabalho de cinco meses.

De acordo com Dimas, a escultura de Lampião, que pesa mais de uma tonelada, foi encomendada pela fotógrafa Candinha Bezerra, mas com a ausência prolongada da fotógrafa, Dimas vendeu a peça à professora Isaura Rosado, atual presidente da Fundação José Augusto. Com uma vasta clientela, Dimas afirma que não tem dificuldade para vender suas peças. “Se eu fizesse uma peça por semana, tinha comprador pra ela. Hoje, tenho muitas portas abertas”, enfatizou.

Pela visibilidade que obteve nos últimos dez anos, o artista acariense faz questão de agradecer a Dárcio Galvão, atual presidente da Fundação Capitania das Artes, que comprou as primeiras peças e divulgou o trabalho na mídia em Natal. Conforme Dimas, através dessa difusão do seu nome, conquistou clientes como Woden Madruga, Vânia Marinho, Chico Ivan, Hugo Macedo, entre outros nomes que continuam propagando sua arte na pedra.

Dimas permanece castigando a rocha gigantesca, esculpindo detalhes com ferramentas grosseiras para um trabalho tão delicado, cheio de detalhes. Enquanto o sol seridoense joga suas labaredas nas costa daquele artista, os contornos do Lampião aparecem na medida em que ele açoita a pedra bruta do sertão do Acari.

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