27 de setembro de 2006

De Escrevinhadores

Por Gustavo Luz
A entrevista do escritor Marcos Ferreira, "Um Operário das Letras", na Revista de Humor e Cultura do Rio Grande do Norte, Papangu, foi o que de melhor aconteceu no campo das letras potiguares nesse ano de 2006. Nada gerou tanta polêmica e controvérsias quanto essa entrevista, concedida ao jornalista Alexandro Gurgel.

O poeta, autor dos livros "Um Poema de Presente" e "Encantamento", que ele considera dois abortos mal planejados, moveu sua metralhadora giratória, com munição que acumulou desde o tempo de sapateiro, passando pelas revisões de textos infames que geraram livros para serem elogiados pelos colunistas dos jornais de Mossoró e do Estado.

Mas a munição pesada que Marcos Ferreira conseguiu acumular nasceu do tempo em que atuou na imprensa mossoroense, esta que ele diz ser formada por “jornais de negócios”. Daí porque alguns editores o acusam de querer ser o James Joyce mossoroense.

Com isso, o poeta deixou de atuar nos diários da cidade, debaixo de uma saraivada de balas, e jamais voltou a colaborar com esses veículos. Encontrou na iniciativa de Túlio Ratto uma trincheira perfeita para combater os inimigos. O que ele não esperava eram certos ataques relacionados com o meio político, tendo assim que abandonar as suas atividades na trincheira literária da revista, onde assinava o espaço "Escrivaninha".

Em seu recente depoimento na edição de número 30 da Papangu, onde foi o entrevistado do mês de julho, o escritor não contou conversa: "É aqui que vou gastar minha munição". E o que se viu foi uma saraivada de balas que atingiu a todos os letrados, demonstrando que a palavra escrita só é respeitada se concebida através de muito labor e compromisso com a arte literária.

Marcos Ferreira deu um testemunho à altura da revista, batendo a poeira da mesmice literária das nossas revistas bem-comportadas, como bem escreveu em sua coluna o também escritor Vicente Serejo.

O que digo é que todos leram a entrevista. Os que não foram citados resmungam, reclamaram da ausência do nome. Mas a verdade é que não houve esquecimento. É o que afirma o próprio entrevistado: “Os demais, cujos nomes prefiro não citar, justamente por estarem no mesmo nível embrionário em que me encontro, ainda não podem ser vistos a olho nu.”

Agora, pegando a deixa, vou à carta do editor Abimael Silva, publicada no Espaço do Leitor, nesta Papangu de número 31. Diz Abimael rebatendo a entrevista de Marcos Ferreira: “Depois, faz umas comparações sem futuro, dizendo que o RN não tem nomes que se comparem com Pernambuco, Ceará e Paraíba.” A resposta a essa afirmativa, o próprio Câmara Cascudo é quem assevera: “Natal não consagra nem desconsagra ninguém”. E, confirmando o que disse o entrevistado, basta ler a edição especial da BRAVO!, que traz a seguinte chamada de capa: “100 livros essenciais”. A revista apresenta um ranking da literatura brasileira em todos os gêneros e em todos os tempos, onde não figura nenhum autor potiguar.

Certo que em nosso Estado existem muitos bons escritores, mas a política partidária sempre acaba por nutri-los com empreguinhos, presentes e festas, e a maioria perde-se na cozinha dos coronéis da política potiguar. Quando muito, conseguem apenas reunir as suas crônicas em forma de livro e daí já querem tornar-se imortais.

Já o autor de "O Dia das Moscas", Nei Leandro de Castro, em texto publicado na edição do último dia 11 de agosto na Tribuna do Norte, coloca o entrevistado à altura do melhor de Agripino Griecco, especialmente quando Marcos se refere à academia de letras potiguar como “academia norte-rio-grandense de lesmas, cuja única atividade se concentra na política funerária em volta do seu morto rotativo”. Nei achou isso ótimo. É que ele próprio já foi vítima da política partidária da Academia.

Mas, se existe esse “mossoroísmo” a que Nei se refere, “ou seja, a eterna viagem em volta do umbigo de Mossoró”, existe também o natalismo, ou seja, a eterna volta em torno do cu do elefante. Então, enquanto os literatos estiverem dando voltas em torno de si mesmos, e os jornalistas adulando os coronéis que estão velhos por demais, e tentando dar empregos aos filhinhos incompetentes para uma vida mansa, seremos eternamente um Estado que se limita a festejar o ataque de Lampião ou a tomar whisky admirando o Morro do Careca.
Artigo publicado no site Quima-Bucha: www.queimabucha.com

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