11 de março de 2007

Entrevista com Júlio César Pimenta

Por Mayara Amorim

Natural de Natal, Júlio César Pimenta uniu forças ao amigo Dorian Lima para concretizarem um sonho, realizar um festival destinado aos músicos norte-rio-grandenses que fazem e admiram a música local. Mesmo contando com apoios como o da Fundação José Augusto e incentivos fiscais do Estado, Júlio César afirma que é complicado, mas gratificante realizar um evento cultural como o MPBeco - Festival de Música do Beco da Lama, que este ano ganha sua segunda edição.

De quem foi a idéia e como surgiu a inspiração para criar o Festival de Música do Beco da Lama (MPBeco)?
A idéia surgiu através de Dorian Lima, outro produtor do festival, que chegou falando em umas apresentações. A proposta evoluiu ao fazermos uma pesquisa entre os artistas notando a carência desse tipo de evento em Natal. Depois de várias reuniões surgiu o MPBeco que, apesar de uma só edição, consideramos estar consolidado.

Qual seu envolvimento com a música e por que criar um concurso para músicos potiguares?
Meu envolvimento com a música é como ouvinte. Meu pai e meus dois irmãos mais velhos sempre trouxeram bons discos de rock e MPB para casa. Cresci escutando o que tinha de melhor nessas duas áreas, lógico que incorporei outros estilos musicais, só não me entra o tal do forró eletrônico, pagode e outros parecidos. O festival foi criado pela carência desse tipo de evento no Estado, inclusive em Natal, e para incentivar a criatividade de compositores e intérpretes, através da premiação e para criação de novas platéias, principalmente o público mais jovem conhecer os nossos artistas.

Por que Elino Julião como homenageado deste ano?
Na primeira edição, houve quem discordasse da escolha da Comissão Julgadora do evento. Como todo festival, houve protestos e vaias. Democraticamente o festival ouviu as sugestões dos músicos/participantes e para a segunda edição criou o Prêmio do Júri Popular Elino Julião. Elino Julião foi o artista que mais elevou o nome do Rio Grande do Norte no cenário nacional e o último show que ele fez na cidade foi exatamente no Reveillon 2006, no Beco da Lama. Infelizmente, ele partiu, então nada mais justo que nomear o Prêmio Popular para um artista tão popular.

Quem são os vencedores do ano passado e como ocorreu o concurso 2006?
Os vencedores da primeira edição são os seguintes:
.Melhor Música: Volta (Simona Talma/Khrystal) Intérprete - Simona Talma
.Segunda Colocada: Tarde (Tertuliano Aires/Nagério) Intérprte - Carlos Bem
.Terceira Colocada: Jesuíno (Zé Fontes/Tertuliano Aires) Intérprete - Zé Fontes
.Melhor Arranjo Musical: Jesuíno - Arranjo de Zé Fontes
.Melhor Intérprete: Simona Talma
O Festival transcorreu bem, com pequenos problemas, como era de se esperar, pelo ineditismo. Mas no geral foi um grande evento que trouxe muita gente para o Centro Histórico de Natal. Tivemos um público aproximado de 2.000 pessoas por dia de festival.

E fácil organizar e manter um concurso de incentivo à cultura popular no Estado? Quais as maiores dificuldades?
Não tem nada de fácil. Tem é de difícil. Aprovar um projeto, qualquer que seja, nas leis de cultura é fácil, o problema é captar o montante para realizar o evento. No I MPBeco nós não conseguimos arrecadar todo o orçamento, no II MPBeco com toda certeza também não vamos conseguir. O empresário ainda não conhece a lei, o contador também não, e dessa maneira os projetos não saem das gavetas. Felizmente, a parceria Destaque Promoções/MPBeco continua este ano, com mais o apoio do bloco Bicho Papão e Gráfica Offset. Mesmo assim não fecharemos o nosso orçamento e teremos que conseguir a parte que falta na iniciativa privada ou órgãos públicos. É sempre assim. No lançamento do MPBeco, numa reunião informal entre o produtor Zé Dias, o presidente da Fundação José Augusto, e o Adjunto da Fundação Fábio Henrique, ficou acertado uma reunião patrocinada pela fundação com os contadores das empresas para explicar as leis de cultura e desatravancar os projetos aprovados. A Lei Municipal de Cultura funciona bem, mas a Lei Estadual é bem mais complicada, precisa urgentemente de mudanças.

Quem serão os julgadores e quais os itens observados pela banca?
Este ano vão existir três comissões julgadoras: a primeira para escolha das 20 músicas que serão selecionadas para as duas eliminatórias. Nesta fase (eliminatórias) será reunida a segunda comissão julgadora que julgará as músicas que farão a final. Finalmente uma outra comissão julgadora trabalhará na final do evento. Os nomes ainda não foram escolhidos. Temos uma lista de uns 60 nomes ligados à música que estamos entrando em contato. Divulgaremos na imprensa. A comissão julgadora é quem vai decidir critérios a serem adotados para julgarem as músicas. A produção será totalmente isenta.

Quando as inscrições terão início e, na sua opinião, por que os músicos do Estados devem se escrever?
O festival é idealizado para os músicos norte-rio-grandenses e os que moram aqui há pelo menos dois anos. É uma oportunidade para os músicos mostrarem seu trabalho. Não é fácil para quem é músico/intérprete encontrar portas para mostrar seu trabalho e o festival está aberto a todos os músicos do RN. Além de que concorrem a uma premiação em dinheiro totalizando R$ 7.200,00. As inscrições para o festival estão abertas de 1º de março até o dia 10 de abril de 2007. A inscrição é totalmente grátis. Em Natal existem três locais de inscrição: Sebo Balalaika, na rua Vigário Bartolomeu, 565, Centro, Stúdio Groove na rua Floriano Peixoto, 567, Petrópolis e na Disco Fitas na rua Princesa Isabel, 700, Centro. Em Parnamirim no Sebo O Zahir na Praça João Paulo II, Centro.
Para contatos temos os telefones (84) 9906.8740 / (84) 9416.8016, como também os e-mails: mpbecofesmusbecodalama@gmail. com, jucepimenta@yahoo.com.br e a página no orkut: mpbecofesmusbecodalama.

Qual a participação da Fundação José Augusto na edição do II MPBeco - Festival de Música do Beco da Lama?
Este ano firmamos uma parceria com a Fundação José Augusto e disponibilizaremos em todas as cidades que tem casas de cultura material para divulgação, regulamento e ficha de inscrição para o festival. Receberemos também pelo Correio, com data de postagem até o dia 10 de abril no endereço: Produção II MPBeco, rua Júlio de Castilho, 85 - conjunto Vale do Pitimbu - bairro Pitimbu - Natal/RN - CEP: 59.069-550.

Para os músicos do interior do Estado existirá alguma ajuda de deslocamento, ou local para hospedagem? Como e onde as inscrições podem ser realizadas?
Infelizmente não conseguimos captar todo o orçamento para o festival. Não há ajuda para deslocamento, mas os músicos do interior do Estado que forem selecionados terão hospedagem e alimentação em Natal, na eliminatória e na final. Para os músicos do interior que não se deslocarem a Natal, recebemosa inscrição com o material (CD-ROM gravado com até três músicas e as letras digitadas em três vias e a Ficha de Inscrição completa) com data de postagem até o dia 10 de abril no endereço: Produção II MPBeco, Rua Júlio de Castilho, 85 - conj. Vale do Pitimbu - bairro Pitimbu - Natal/RN - CEP: 59.069-550.

Qual é a importância da música em sua vida? Como você observa o cenário musical do RN nos últimos anos?
A importância é grande. Sempre fui um apaixonado por música, desde "brega", passando pela MPB, pelo rock, pelo blues, pelo forró (o original). A música sempre foi um grande prazer na minha vida. O cenário musical no RN é enorme. Existem inúmeros compositores que querem mostrar seus trabalhos e não conseguem. Queremos que apareçam. Nos últimos anos se distinguiram alguns projetos musicais: o Seis e Meia, que sempre abre com uma atração local, o Quarta Musical da Casa da Ribeira, o Projeto Praia Shopping, implementado por Zé Dias, que antes era Seway Shopping e que chegou a fazer mais de 400 shows, todos de muita boa qualidade e de graça para o público. Zé Dias continua agora no Praia Shopping da mesma forma, inclusive este mês de março é dedicado as mulheres, todos os dias tem cantoras se apresentando. Tem uma grande quantidade de bandas de rock, na maioria formada por jovens de classe média, algumas delas de ótima qualidade, já com seus CDs lançados, etc. Acho legal esse deslanche do rock aqui. Alguns dizem que "Maracatu daqui é rock". Acho que tem melhorado, mas ainda precisa se fazer muito pelos músicos do Estado.

Algum intérprete do interior do Estado já recebeu algum prêmio do MPBeco?
Nas inscrições do I MPBeco, apenas uma música chegou à final, infelizmente não foi premiada. A produção do festival espera uma maior demanda do interior para a segunda edição. Sabemos do potencial que o Estado do RN tem, portanto esperamos que o sertão chegue no mar. Torcemos por isso, chegar alguém que mostre seu trabalho e seja premiado. Desejamos boa sorte aos músicos do interior.

Existe algum projeto de deslocar o festival para outras cidades do Estado? No cenário atual, quais os principais festivais de músicas que você aponta no Rio Grande do Norte e qual o benefício que eles trazem aos músicos contemporâneos
Projeto nós temos. O problema é conseguir os recursos. No ano de 2005 conseguimos aprovar um projeto no Edital dos Correios, infelizmente foi exatamente naquela época que apareceram todos aqueles problemas de corrupção no governo Lula e infelizmente demorou demais o repasse do dinheiro e chegou 2006 e foi cancelado. O projeto seria para, na época, dez casas de cultura espalhadas pelo Estado. Sabemos que a maioria delas não funciona, apenas 3 ou 4 ainda sobrevivem. Festival existe o da Casa da Ribeira, diferente do nosso, pois a banda ou músico apresenta um show completo para uma comissão escolher. Não sei se o Sesc continua com seu festival. Fora isso não conheço, pode ser que tenha, mas, no interior, sei lá. Os benefícios são grandes. Veja só que uma banda daqui de Natal, quando fizemos o convite para se apresentar depois dos concorrentes, ficou muito grata, pois "por onde andou, só tinha ouvido falar bem do festival. Vocês estão de parabéns e nós gratos pela lembrança". A produção do festival e que agradece, pois não fazemos música, mas abrimos as portas pra quem faz música no Estado. O festival é premiado e abre portas para os músicos.

Comparando os festivais de hoje com os eventos realizados em décadas passadas, quais as vantagens e desvantagens das apresentações atuais?
Só posso falar de festivais na televisão, estes não dá para comparar com o MPBeco, pela infra-estrutura que é usada naqueles festivais. Mas ainda acho que todos querem participar pela chance de mostrar o trabalho, se falando de festival não vejo muita diferença, aparecer é sempre a primeira questão do festival. Muitos dizem que se ganhar o festival melhor, mas querem mesmo é mostrar suas músicas. Em Natal existiu o Festival do Forte, não posso comentar, pois nesta época eu morava em Belém/PA e não participei. Houve outros festivais, mas a maioria era apenas para apresentações sem premiação, sem competitividade. O MPBeco se difere pelo incentivo com prêmios, aqui em Natal.

Faça um convite aos leitores e aos músicos do Rio Grande do Norte apontando quais os principais benefícios na inscrição de bandas e músicos no MPBeco - Festival de Música do Beco da Lama?
O II MPBeco agradece pelo espaço dispensado no jornal e convida todos os músicos para participarem do nosso festival. Venham, participem, o festival é dinheiro de renúncia fiscal, portanto dinheiro público. O festival é feito para os músicos e público, não cobra inscrição, não cobra ingresso, o local do evento (Centro da Cidade) Beco da Lama é uma região boêmia/cultural da cidade. Venham conhecer outros músicos, fazer intercâmbio. Enfim, participem.

Entrevista publicada no jornal O Mossoroense, em 10 de março de 2006.

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