Por Franklin Serrão
Uma vez em Mossoró, no finado Chap Chap, Alex, Plínio, Léo, Hugo, Bardim e Eu. Ali tomamos, 375 cervejas, 4 garrafas de Montilla e Alex ainda pagou um tira gosto.
Depois da bebedeira, de costurar as ruas da capital do alto oeste, fomos dividir um quarto no hotel próximo. Simples, Parecido com o hotel São Paulo da Rio Branco. Uma noite interminável para mim. Mofo, banda sinfônica de roncos, insuportante melodia desafinada. O quarto tremia como num terremoto. Alex com seu ronco rouco, Léo com um idioma estranho, mistura de nhegatu com grego, fazia o papeu do trombone. Plínio um Hércules. Bardim e Hugo foram para o Termas.
Mas o pior estava a caminho. Depois de noite insone, de pesadelos conscientes, fui alvejado pela janela aberta. Antes protagonista de uma friagem atacamica, agora emoldurava um vento quente, cáustico, derreteu minha mucosa nasal. Os genes imediatamente se agitaram. E antes de poder evoluir para uma espécie mais adaptada, uma serpente egípcia, ou um dromedário, resolvi visitar o Bardim mais cedo, pois era apenas nove horas e o café da manhã deveria estar na mesa do Termas.
Estava quente naquela manhã. Os transeuntes acendiam seus cigarros nos fios de cobre dos postes, dava para ouvir a água ferver dentro dos cocos. Foi quando passei diante a uma casa funerária.
No caixão do defunto, perto da cabeça, um pote grande de hidratante de pele. Que coisa estranha, no mínimo original. Mais um ritual autenticamente mossoroense? Pensei. Três carpideiras passavam a mão no pote e besuntavam a face e os braços do finado. Diante do sinistro, do ritual fúnebre incomum, parei para observar.
Depois de algum tempo, já fazia parte da paisagem funeral, então perguntei a uma delas: - por que vocês tão melando ele com creme? A profissional de velório que chorava, soluçava e sorria ao mesmo tempo, de voz anasalada respondeu:
- é que o sonho dele era ser cremado depois de morto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário