4 de setembro de 2007

Dois poemas de Cefas Carvalho

Mar e terra

Se o mar não me engole por inteiro
Se meus pulmões não se enchem mais de sal
Se meu coração não quer mais o estaleiro
Que fique eu – inerte – cá no areal

Se as ondas me devolvem já à areia
Se não arrebento minh´alma lá nas rochas
Se o mar será minha frugal última ceia
Que eu vele o oceano como tochas

Se os arrecifes não mais me dilaceram
Se Iemanjá não quer mais como amante
Se em vão agora meus olhos tanto esperam
Que por terra eu fique e vá adiante

*-*

Armagedom

Era o deus colérico a me perseguir
Em meu tortuoso caminho de Damasco?
Ou o demônio, vil, a espargir
Água amaldiçoada com fel e asco?

Seria o armagedom a, solene, surgir
Em um arrebol de fúria e de som?
Ou o paraíso de Milton a explodir
Em um surreal arco-íris marrom?

Era o demônio a chegar sorrateiro
Em uma nuvem de enxofre e carbono?
Ou o calor fantasmal do candeeiro
A transformar em inferno o meu sono?

Eram querubins a, com trombetas, anunciar
O juízo final, a chegar, finalmente?
Ou nada mais que outro dia a raiar
No lirismo banal de um sol nascente?

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