29 de outubro de 2007

FLIPORTO: uma festa literária

Escritor Edson Nery
-
Por João da Mata Costa

Gostoso o ambiente das festas literárias. Não só a de Paraty tem seu charme. De 27 a 30 de setembro ocorreu a FLIPORTO, na bela praia de Porto de Galinhas em Pernambuco. Uma festa latino-americana. Muitos escritores brasileiros conhecidos, e outros da latino-américa não tão festejados. Um bom momento para conhecermos essa rica produção de nossos vizinhos. Uma bela homenagem aos 90 anos do grande escritor e dramaturgo pernambucano Hermilo Borba Filho, com direito a lançamento do livro “A palavra de Hermilo”, organizado pela viúva do escritor Leda Alves e o escritor Juareiz Correya.

Numa das salas do hotel armação, uma bela exposição em homenagem a Hermilo, com destaque para a coleção erótica traduzida pelo escritor. Nessa mesma sala havia uma bela exposição de iluminogravuras em homenagem ao grande escritor e dramaturgo paraibano/pernambucano/natalense Ariano Suassuna, com direito à apresentação do amigo e escritor Carlos Newton.

O escritor Edson Nery chega cambaleante nos seus mais de 80 anos, reclama da falta de corrimões para os idosos, e proporciona à seleta platéia uma brilhante palestra com título “A América Latina de Gilberto Freyre”. Uma palestra de um homem erudito que encanta os ouvintes, formado na maioria por escritores e professores. Os poetas Tiago de Melo e Ledo Ivo assistem eufóricos à palestra do colega, com trocas mútuas de afetos e amizades. Edson Nery fala sobretudo de livros, minha paixão. Nossa perdição. Ele flana literariamente de Gilberto Freyre a Bossuet. “A cabeça está ótima, mas o corpo não obedece”. Nery vendeu o seu rico acervo de livros a Ricardo Brennand. Está em boas mãos. Fico indócil quando ele diz que a Fundação Calouste Gulbenkian poderia ter vindo para o Brasil. Uma bela Fundação e museu sediada em Portugal. Edita os grandes clássicos da humanidade.

No outro dia assisto ao painel “Literatura e Academias de Letras”. Dois imortais não estavam presentes num desrespeito ao público pagante. A justificativa sobrenatural foi que o avião atrasou. Não aceito essa desculpa e não aceito não ser levado a sério, mesmo sendo nordestino. Compromisso deve ser obedecido.

Numa mesa desfalcada, Sábato Magaldi fala dos teatrólogos da Academia Brasileira de Letras. Ledo Ivo dá um show recitando as suas belas poesias. A do rato da sacristia é maravilhosa.

O rato da sacristia era positivamente um mal católico, pois roía tudo o que encontrava pela frente sem ter o menor respeito. Ou melhor, respeitava uma única coisa dentro da igreja, a Santa Eucaristia. Não poupava o pezinho santo da Virgem Maria nem o dedinho do Menino Jesus. De noite roía e de dia sumia.

E a inédita feita em homenagem ao Recife, que ele não pode mostrar por ciúmes da sua Alagoas. Muita gente interessante dentro e fora dos locais da palestra. No centro da cidade, cuja brisa inunda e inspira a conversa na beira da praia, encontramos com o colega que faz o belo programa Leituras. Na pizzaria conversamos com um colega que sabe tudo de Aquilino Ribeiro. Muitos escritores que podem autografar o livro na hora da compra. Nas muitas barraquinhas vendendo livros encontro o belo livro organizado pelo Paulo Bruscky et al., em homenagem ao grande artista, poeta e editor pernambucano Vicente do Rego Monteiro.

É assim uma festa literária: livros, trocas de idéias, amigos e pessoas que só encontramos nas páginas dos livros. Um banquete dos deuses que encantam nossas vidas cheias de livros, personagens e escritores que podemos encontrar na bela e paradisíaca Porto de Galinhas.

Nenhum comentário: