2 de outubro de 2007

O Homem Que Desafiou o Diabo

CRÍTICA

Por João da Mata
professor

Deixei passar a euforia e ansiedade dos primeiros dias de exibição do esperado filme “O Homem Que Desafiou o Diabo”, longa metragem dirigido por Moacyr Góes. Gosto de prestigiar o cinema nacional e não poderia deixar de assistir a um filme que tem as cores e sotaques da minha aldeia. Assisti numa segunda feira de primavera na sala do Moviecom. Platéia com menos de 20 pessoas que só se manifestava numa das muitas cenas eróticas e de nudismo do filme.

O erotismo é um tema muito apreciado pelo autor de Ojuara. A trilha sonora do filme é excelente, e o roteiro é uma adaptação do livro "As Pelejas de Ojuara", de Nei Leandro de Castro, grande poeta e autor de um outro excelente romance de maus costumes: “O Dia das Moscas”. Ojuara, anagrama de Araújo, é um pícaro nordestino que enfrenta o diabo para alcançar o mítico País de São Saruê. Conhecendo bem o diretor do filme, não tinha muita expectativa que ele pudesse transportar para a tela a saga do rico personagem e seus muitos tropeços em terras nordestinas.

O filme é uma pasteurização da pasteurização da gorda e rica cultura popular brasileira. Muitos apelos ao erótico e algumas poucas cenas relevantes. Com destaque para a mulher da vagina de alicate que retira um prego utilizando a sua versátil ferramenta. A associação da parte intima da mulher como algo que aprisiona o falo é clássica na literatura erótica.

É fraca a atuação da fraca atriz Flávia Alessandra como a Mãe de Pantanha O naipe masculino tem destaque no filme. O ator Hélder Vasconcelos faz um excelente cão que leva e dá porrada no Ojuara. Leon Góes está muito bem como um corcunda que guarda a tenebrosa Mãe de Pantanha. Excelente a escolha do grande poeta Moysés Sesyon como um dos grandes personagens do filme. Também gostei mais do Marcos Palmeira como Zé Araújo - com cabelo cheio de brilhantina, do que vivendo o pícaro Ojuara.

De um filme espero mais que entretenimento e lazer. Lamentavelmente os autores do filme “O Homem Que Desafiou o Diabo”, não souberam explorar o rico manancial de possibilidades que o livro do Nei proporciona. As cenas são mal costuradas e não há uma seqüência que permita viajar no mundo mítico da verdadeira cultura popular nordestina.

Salva-se a intenção e a boa música que Ojuara dança segurando na bunda das mulheres. De tanto esperar e ouvir falar da gestação desse filme, saio da sala escura decepcionado e sonhando com o cão. Ou seria a mulher do trapézio. Vamos esperar o próximo. Quem sabe uma bela filmagem de O Dia das Moscas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Respeito a sua opinião, meu caro, mas acredito que o filme não tenha a pretensão de retratar, historicamente, o universo nordestino. Afinal, se qualquer Diretor fosse retratar esse universo, colocaria como destaque as mulheres de familia que frequentam Ponta Negra.
Acho que, apesar de concordar com os excessos de nudez e cenas eróticas, isso não tira o brilho de um filme bem feito e com uma narrativa simples, mas eficaz ao que se propõe.
Livro é livro. Filme é filme. Cada qual na sua ótica e próposito.
Vi e gostei. Sou pernambucano e nasci no sertão... Então, tenho o direito de lhe dizer, com humildade, que sua crítica trata-se de um gosto pessoal. A não ser, se sua vida inteira foi vivida numa total reclusão social.