8 de novembro de 2007

Dicas de Leituras

Clássicos
À Margem da História, de Euclides da Cunha
“Ao revés da admiração ou do entusiasmo, o que nos sobressalteia geralmente, diante do Amazonas, no desembocar do dédalo florido do Tajapuru, aberto em cheio para o grande rio, é antes um desapontamento. A massa de águas é, certo, sem par, capaz daquele terror a que se refere Wallace; mas como todos nós desde mui cedo gizamos um Amazonas ideal, mercê das páginas singularmente líricas dos não sei quantos viajantes que desde Humboldt até hoje contemplaram a hiléia prodigiosa, com um espanto quase religioso — sucede um caso vulgar de psicologia: ao defrontarmos o Amazonas real, vemo-lo inferior à imagem subjetiva há longo tempo prefigurada.”
Leia À Margem da História na íntegra

Autores modernos
Senhor, tem pena de mim, de Ivan Lessa
“As vastas amendoeiras do Passeio Público fornecem aprazível refúgio àqueles que, por alguns minutos, desejam escapar ao alvoroço do Centro, deixando-se ficar sentados, simplesmente a matutar ou ler o jornal. Quando eu discretamente deixei a serrinha e o facão, embrulhados no Jornal dos Sports, ao meu lado no banco, uma boa meia-dúzia de gatos pingados, dentre as dezenas daquele logradouro, veio logo xeretar.”
Leia Senhor, tem pena de mim na íntegra

Poesia
No caminho com Maiakóvski, de Eduardo Alves da Costa
“Na primeira noite eles se aproxima
me roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”
Leia No caminho com Maiakovski na íntegra

Novos autores
Reverso, de Nanci de Almeida Sampaio
“Vestia a farda da polícia. Todos os dias, pontualmente. Nascera numa família numerosa e pobre; caçula de oito filhos, ele só tinha irmãs. Desde muito pequeno, gostava de defendê-las com suas armas de cabo de vassoura. Depois, treinara um vira-latas já cansado do ofício a dar alarme ao sentir algum perigo rondando o quintal. Leal, o cão deixou de cavar buracos na terra, enterrar ossos, perseguir o próprio rabo, para concentrar-se nos ruídos e movimentos da vizinhança, embora desconfiasse de que não havia muito o que salvar.”

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