5 de dezembro de 2007

Marcos, o Ferreiro das Letras

Alexandro Gurgel
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Autodidata, natural do município de Mossoró, Rio Grande do Norte, onde nasceu no dia 10 de abril de 1970, o ex-sapateiro Marcos Ferreira de Sousa vem se destacando como um dos mais expressivos nomes da nova geração de escritores potiguares. Sua índole refratária, seu caráter contestatório e sua verve corrosiva têm suscitado bastante controvérsia e dividido opiniões em diversos segmentos intelectuais da província.

Ultimamente, no caderno de cultura ‘Babélia’, do jornal semanal Página Certa, que circula em Mossoró aos domingos, Marcos Ferreira deu início à publicação de seu demolidor romance-folhetim Acerto de Contas, que é um sério candidato — segundo o próprio autor — a livro maldito na ‘terra da liberdade’. Nesses primeiros capítulos publicados no Página Certa, Acerto de Contas não deixa pedra sobre pedra. E o mal-estar só tende a crescer nos meios literários, especialmente em Mossoró, pois a obra continuará sendo publicada.

Autor de trabalhos inéditos nos gêneros conto, romance, poesia e crônica, alguns de seus textos figuram em antologias, revistas, jornais e suplementos de várias partes do País. Entre as menções e premiações conquistadas em nível nacional, Marcos foi o vencedor da primeira edição dos ‘Prêmios Literários Cidade de Manaus – 2006’ com o livro A Hora Azul do Silêncio, poemas, concorrendo com mais de duzentos escritores de vários Estados brasileiros.

Contando com vários poemas selecionados e premiados em diversos concursos literários espalhados pelo País, o livro A Hora Azul do Silêncio será lançado em Mossoró no próximo dia 12 de dezembro, às 18 horas, na livraria Café & Cultura, situada na avenida Rio Branco, 1740, ao lado do Teatro Municipal Dix-huit Rosado.

A Hora Azul do Silêncio, que sai com selo da editora da Universidade Federal do Amazonas, traz prefácio do jornalista e escritor potiguar Vicente Serejo, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras. O texto escrito para as orelhas do livro é assinado pelo poeta amazonense Élson Farias, presidente da Academia de Letras do Estado do Amazonas.

O cronista Vicente Serejo, que no próximo dia 12 de dezembro estará em Mossoró para fazer a saudação ao escritor mossoroense, emite o seguinte comentário no prefácio que escreveu para a obra: “Ninguém se engane, pois, com o silêncio azul do poeta Marcos Ferreira. Um livro não seria premiado tantas vezes se não fosse, ao mesmo tempo, clausura e libertação. Uma poesia que é sagrada e é profana, matéria-prima de lábios e línguas que tecem, metaforicamente, as várias dicções e os fios de um silêncio azul e sensual.”

Em terras potiguares, Marcos Ferreira conquistou a primeira colocação do ‘Concurso Literário Professor Vingt-un Rosado’, promovido pela prefeitura de Mossoró no ano de 2001. Na capital do Estado, foi também o ganhador do concurso de poesia do Sesc/RN e jornal cultural O Guincho.

Em 2005, com o inédito Grosso Calibre, ficou entre os dez finalistas do ‘Prêmio Sesc de Literatura’, categoria contos, promovido pelo Sesc do Rio de Janeiro em parceria com a editora Record. Teve poemas selecionados para integrar as antologias de três edições do ‘Prêmio Escriba de Poesia’, realizado pela prefeitura de Piracicaba, SP, respectivamente nos anos de 1998, 2004 e 2006.

Em Natal, foi distinguido com menções honrosas nos concursos Othoniel Menezes (poesia) e Câmara Cascudo (prosa), realizados pela Capitania das Artes, edições de 2003, 2004, 2006 e 2007. Conquistou outras menções no ‘V Concurso de Poesia Luís Carlos Guimarães – 2005’, da Fundação José Augusto, e no ‘Concurso de Poesia Zila Mamede – 2006’, realizado pela prefeitura de Parnamirim em parceria com o jornal Potiguar Notícias.

Na imprensa local, o poeta atuou como revisor, copidesque, repórter e editor de cultura. Ultimamente, Marcos Ferreira trabalha no ramo de prestação de serviço, responsável pela revisão, organização e edição de livros, jornais e revistas literários.

POEMAS

Diante do espelho

Não sou eu este homem que diviso
na moldura do espelho à minha frente,
sem a mínima sombra de um sorriso
a pender-lhe do lábio descontente.

Não são meus estes olhos de granizo,
que me encaram completa e friamente,
nem o queixo rotundo e tão conciso
sob os fios da barba intermitente.

Não são meus estes lóbulos caídos
como estranhos e lânguidos badalos
na capela insondável dos ouvidos.

Pois não sou este espírito a esmo,
que me busca entre sombras e abalos
na infinita procura de si mesmo.

*-*

Confiteor

No oratório invulgar dos olhos teus,
a minha alma é esta sombra ajoelhada
a rezar longamente emocionada,
feito um cego perante a luz de Deus.

Quantos homens, devotos ou ateus,
não buscaram também esta morada
que os teus olhos de santa imaculada
anunciam na paz dos sonhos meus.

Mas agora ouve a prece que te envio
entre as sombras e o fogo do pecado,
nestas noites de engano e desvario.

Porque assim te confesso, ajoelhado:
eu, que em nada mais creio, só confio
nos teus braços morrer crucificado.

(Do livro A Hora Azul do Silêncio, de Marcos Ferreira)

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