Micrômegas, de Voltaire
“Num desses planetas que giram em torno da estrela chamada Sírio, havia um jovem de muito espírito a quem tive a honra de conhecer durante a última viagem que fez a este nosso pequeno formigueiro: chamava-se Micrômegas, nome bastante adequado a todos os grandes. Tinha oito léguas de altura: entendo, por oito léguas, vinte e quatro mil passos geométricos de cinco pés cada um.
Alguns algebristas, gente sempre útil ao público, tomarão logo da pena e, tendo em vista que o senhor Micrômegas, habitante do país de Sírio, tem da cabeça aos pés vinte e quatro mil passos, ou sejam vinte mil pés, e que nós outros, cidadãos da terra, não medimos mais que cinco pés de altura e o nosso globo nove mil léguas de circunferência, esses algebristas, dizia, eu, calcularão que é preciso, absolutamente, que o globo que o produziu seja exatamente vinte e um milhões e seiscentas mil vezes maior que a nossa minúscula terra. Nada mais simples nem mais comum na natureza.”
Leia este texto na íntegraPoesia
A morte do poeta, de Júlio Dinis
“Calou-se a lira! E a criação nos coros
De menos uma voz aos céus revoa!
Na imensa harpa, em que o universo entoa
Seus cânticos, de menos uma corda!
Que foi? que nota falta às harmonias?
Que foi? que mão deixou quebrar a lira?
O poeta morreu, o canto expira,
Cessam seus hinos do sepulcro à borda!
Morreu o teu cantor, ó Armamento!
Teu sacerdote ardente, ó poesia!
Ó Deus, ó Pátria, a última agonia
Gelou a voz que hosanas vos sagrara!
Crente inspirado, os brados do entusiasmo
Não lhe esfriou dos homens a indiferença,
E a venenosa taça da descrença
Dos generosos lábios arrojara!
O poeta morreu! E o Sol e os astros
Que ele cantou, e a abóbada celeste
De lutuosas trevas se não veste;
E tu, ó Pátria, que ele amava tanto,
Tu dormes inda esse gelado sono ?!
Não te acorda o seu último gemido?
Sente-lhe a morte, se não hás sentido
De animação e glória o eterno canto.”
Leia este e outros textos na íntegra
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Virginia Woolf (1882 – 1941)
“O Sol ainda não nascera. Era quase impossível distinguir o céu do mar, mas este apresentava algumas rugas, como se de um pedaço de tecido se tratasse. Aos poucos, à medida que o céu clareava, uma linha escura estendeu-se no horizonte, dividindo o céu e o mar. Então o tecido cinzento coloriu-se de manchas em movimento, umas sucedendo-se às outras, junto à superfície, perseguindo-se mutuamente, em parar.
Quando se aproximavam da praia, as barras erguiam-se, empilhavam-se e quebravam-se, espalhando na areia um fino véu de água esbranquiçada. As ondas paravam e depois voltavam a erguer-se, suspirando como uma criatura adormecida, cuja respiração vai e vem sem que disso se aperceba. Gradualmente, a barra escura do horizonte acabou por clarear, tal como acontece com os sedimentos de uma velha garrafa de vinho que acabam por afundar e restituir à garrafa a sua cor verde. Atrás dela, o céu clareou também, como se os sedimentos brancos que ali se encontravam tivessem afundado, ou um braço de uma mulher oculto por trás da linha do horizonte tivesse erguido um lampião e este espalhasse raios de várias cores, branco, verde e amarelo (mais ou menos como as lâminas de um leque), por todo o céu. (...)”
Trecho do livro As OndasVirginia Woolf Society of Great Britain
The Internacional Virginia Woolf Society
Página da autora na Wikipedia
Entrevista da BBC com a autora, em inglês
Biografia da autora, em inglês
Livros da autora no Projeto Gutemberg da Austrália
Livros na íntegra, em inglês
Trechos de reflexões da autora, em português
Trecho do documentário biográfico sobre Virginia Woolf
Trecho do filme As Horas
Trailler do filme Orlando, baseado na obra da autora
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