9 de fevereiro de 2009

Um poema de Plínio Sanderson, Natal RN

Bequiana

há algo de podre na límpida lama.
a fama do beco bóia no Potengi.
primazia institucional pelo aparelho do Beco
atrapalha o trabalho
sacrofício.

se tudo flui
à cidade e arrabaldes
confluem às suas entranhas.
absorto em pedra, bares e botecos
tudo sedimenta no Beco.
cloaca do universo.

tinha um beco no meio do caminho...
não foi um rio...
foi um beco que ficou em minha vida.
levitante alma na lama
arte não reta, ereta!

intempéries da confusão in urbe.
suspiros poéticos e hospício ao céu que reluz
beco estorvo criador
imagem semelhança das suas criaturas.
tipos. figuras. espécimes. trastes. bichos. personas.
ratos humanos. escrotas corjas. santos dementes.
putas que pariram.
jogo de bicho, toda sorte e azar ao léu.
nicho nojento que dá na bocágua e álcool.

beco umbilical cordão do imaginário udigrudi.
ecos do tonheca no royal cinema
potiguarânia, magestic...
redutos zeros.
amálgama das nações canguleira & xária.
espaço sagrado, vomitado, sangrado.
chão de profundezas infinitas.

não reproduzir provençais
picuinhas políticas tradicionais.
vide seculares oligarquias barrocas
NATALVESMAIA.
chega de tentar dissimular:
discursos modernosos,
lábias & lorotalheias.
ao cerne the question:
práxis!

como diluir lama na fama?
suscitar o beco como saída
contra o tódio desmemoriado?
como inserir, edificar
mítica viela em espaço concreto?
onde assentar os sem-beco?
espacializar & territorializar o beco!

a labuta é fazer tradição.
exercitar história.
render-se à memória.
excitar libido
feito portas de igreja e pernas de prostitutas
sempre prontas a deixar-se passar...

beco vício vil, falaocioso.
o beco não cabe em si
funda-se em santíssimos saberes:
vicissitudes nos coitos cotidianos.

culto à mística do beco é buraco neglo.
da clara lama ao caos da fama
sambas & rachas & bambas
alilás, ofensiva lilás é interseção
entre o rego e o brilho
do gênero ao sui-generis.
na calçada de fama
altos saltos egolátricos.
urge altruísmo!

transformar em tradição é argumento pragmático.
venha a nós todos os quadros
do beco e do bequismo
todas siglas numa suculenta sopinha de letras
todas matizes pereirálticas,
para lavar, pixar, pintar o beco.
Põe Pôla na sua vida e caótico fuxico se instaura.
escarrar no beco enquanto esperamos gardênia.
maledicências febris...

na contramão da abstração “das kapital”
mais-valia boemia, delírios in tremens.
ébria produção vitae.
cada gole como se fosse o último voto.
fosso átimo fossa.

milacrias
beco na veia
no veio ávido
saída onírica
SAMBA em todos os TAOS.

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