20 de maio de 2009

Carro calibre 38

ARTIGO

por Cefas Carvalho

Volta e meia leio em jornais e em sites sérios que o maior índice de mortes de jovens de classe média e alta é gerado por acidentes de carro. Muitos, por imprudência no volante, excesso de álcool, auto-suficiência. Eu mesmo já perdi amigos e parentes em acidentes de trânsito. Meu primo Renato Lima, com apenas 27 anos perdeu a vida em um acidente em Niterói há quase dez anos.

Recordo ainda de Luis Eduardo de Sousa Alves, mais conhecido por quem curtia rock em Natal nos anos 80 como “Edu Heavy”, líder da banda Sodoma, cujos shows tive o prazer e privilégio de assistir naqueles bons anos pré-celular e pré-internet. Edu morreu em um dos primeiros acidentes de carro na Via Costeira, em 1988.

Estes fatos me voltaram à mente após a leitura de reportagem do jornal O Mossoroense sobre um casal que, numa praia em Icapuí (CE), ao lado de Tibau, teve a moto abalroada por um motorista que fez um “cavalo de pau”. Os dois, José da Silva Neres e Gilvanda Medeiros, ambos de 25 anos, morreram.

Chocou-me o fato de que o motorista da Ranger, Robério Freire, conhecido – segundo o jornal – como “Robério Litorágua” tenha assassinado dois jovens por realizar um “cavalo de pau”, manobra arriscada e pirotécnica que é idolatrada por playboys, daqueles que sublimam nos veículos que dirigem os traumas que apresentam, pelo menos penso eu, que não tenho diploma de psicólogo, mas que não me furto a ter opinião sobre um determinado assunto.

Sou daqueles que defendem o clichê de que um carro, nas mãos erradas, tem o mesmo peso bélico que uma arma. Já conheci alguns jovens – alguns chegando na casa dos trinta, diga-se de passagem – que se transformam diante de um volante. Ficam, aos seus próprios olhos, mais interessantes, mais corajosos, mais sedutores, mais ousados. Nesta equação, some-se mulheres testemunhando o ás do volante e um pouco de álcool e temos a crônica de uma tragédia anunciada. Talvez tenha sido o que aconteceu em Icapuí. E possivelmente vai acontecer muitas vezes ainda.

Li na reportagem que o “Litorágua” não fugiu do local do crime e foi preso na mesma noite. Talvez seja uma boa pessoa, um bom amigo, marido e pai, mas o fato é que, por uma besteira, cometeu e crime e por ele deve ser punido. A impunidade em relação a estes crimes de trânsito é uma das maiores responsáveis para que eles continuem acontecendo com freqüência assustadora.

Que os criminosos do volante sejam punidos e que os jovens brasileiros façam trégua nesta variante insana de Guerra Civil sob rodas, que tira mais vidas do que muitas guerras pelo mundo afora.

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