8 de maio de 2009

Mário de Andrade na Bravo

ARTIGO

por João da Mata

Na ultima Revista Bravo No 141 foram publicados dois artigos assinados pelos jornalistas José Castelo e João Pombo Barile. Os dois artigos apelam para intimidade de Mário e para o enigma Mário. Comentam também da revelação que podem trazer a correspondência entre Mario e seu tio Pio Lourenço Corrêa, recentemente publicadas. Na fazenda de “Tio Pio” Mario escreveu o Macunaíma.

Não é sem tristeza que leio esses artigos, seja pela superficialidade seja pelo sensacionalismo. De algumas pessoas devia ser proibido falar, pela sua grandeza humana e, no caso Mário, além disso - sua grande estatura intelectual e profissional. Um Homem 375 que nunca desejou ser perfeito e as pessoas não tem o direito de especular sobre a sua sexualidade e frustrações.

A oposição falsa entre Mario e Oswaldo é sempre colocada, para prejuízo do primeiro. Oswaldo atacou muitas vezes o sensível Mario em poemas e declarações públicas. Oswaldo assinava artigos (sic) com o codinome Cabo Machado, numa referencia ao personagem de um poema de Mário (Barile J. P.); “ Cabo Machado é cor de jambo./... (...) Cabo Machado é doce que nem mel...”. Uma provocação oswaldiana sem propósito. Em um outro texto Oswaldo intitula de “Boneca de Piche”: alusão à suposta homossexualidade de Mario e sua cor.

O Jornalista Nelson Werneck que escreveu sobre a temporada de Mario no Rio de janeiro (M. de Andrade: exílio no Rio), também faz alusões á sua sexualidade.

A escritora Rachel de Queiroz na sua autobiografia ( Tantos Anos) afirmou que Mario teria sido mais feliz se tivesse assumido sua homossexualidade.
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Será que essas pessoas tem o direito de especular sobre a vida de um homem da grandeza humana do Mário de Andrade? Sem - muitas vezes, conhecer a sua obra grandiosa, realizada com muito sacrifício e suor. O maior missivista do Brasil, um grande musicólogo, poeta e autor de um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Um homem que na minha opinião foi o grande maestro cultural do Brasil na primeira metade do século passado. Que deu vez a muita gente. Aos novos. Aos que não estavam no eixo Rio-São Paulo.

Quando não é para especular sobre a vida sexual do Mario, a sua obra é analisada preconceituosamente e sem profundidade. O critico Wilson Martins (sic) diz que tudo que Mario fez foi de segunda categoria. Mário não pode ser um concertista porque suas mãos tremiam após o trauma com a morte de seu irmão bonito aos 14 anos. Mário tinha complexo de inferioridade....

Tudo isso e demasiado pequeno para analisar uma pessoa da dimensão humana do Mario de Andrade. Uma pessoa generosa e boa. Um grande estudioso da nossa cultura. Aquele que foi responsável por uma inflexão na provinciana cultura brasileira. Que superou desde cedo essa besteira de regionalismo. Um grande professor de piano e teoria musical. Escreveu como ninguém sobre as nossas danças e musicas. Compositor maravilhoso que só precisaria ter escrito “Viola Quebrada” para se eternizar. Pessoas deviam ser proibidas de tocar em vidas como a do M. de Andrade. Com preconceitos e mesquinharia que estão longe da grandeza humana e intelectual de um Mario de Andrade.

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