27 de junho de 2009

Alto do Moura, a cidade de barro onde viveu Vitalino

Alex Gurgel
Severino, filho do Mestre, é o responsável pela Casa-Museu Mestre Vitalino.

Mais populosa cidade do Agreste pernambucano, Caruaru é famosa por sua feira-livre, abrigando um dos mais importantes entrepostos comerciais do Nordeste brasileiro e tem no Alto do Moura o maior centro de artes figurativas da América Latina. Este título, concedido pela Unesco, é consequência de uma história que começou na década de 1940, pelas mãos do Mestre Vitalino, criador dos bonecos de barro que fizeram escola e ficaram conhecidos por "Bonecos de Vitalino".

O nome do lugar deve-se a uma lagoa que existia nas proximidades chamada “Lagoa Fedorenta”. Beirando a lagoa, existia o Alto da Fedorenta que foi invadido por uma família de sertanejos em busca de trabalho nos engenhos e corte de cana. O chefe da família, Antonio Moura, ao notar que as terras do Alto da Fedorenta estavam desocupadas, não tinham dono, imediatamente chamou seu genro e cercou, ficando como proprietário, pois era o costume da época.

Às margens do Rio Ipojuca, o Alto do Moura tem terras férteis e muita água, um incentivo para a população dedicar-se a agricultura. Com o passar do tempo, foi descoberto que a argila da região de ótima qualidade, ideal para peças utilitárias. Então, surgiram os louceiros que faziam panelas, moringas, potes, chaleiras, jarras, quartinhas, etc... Logo, o povoado (atualmente um bairro de Caruaru), ficava conhecido como o lugar dos oleiros.

Quando se estabeleceu na pequena vila, Vitalino era apenas um humilde artesão que esculpia, em argila, pequenas peças vendidas nas feiras da região como brinquedos infantis. Depois de sua morte, seus brinquedos ganharam status de obra de arte. Hoje, praticamente todos os moradores do Alto do Moura são ceramistas. E foi esta concentração de artistas populares, aliada à qualidade artística das peças ali produzidas, que deram à pequena vila o título que tanto orgulha os caruaruenses.
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O Alto do Moura está a 7 quilômetros do centro de Caruaru, sendo um pequeno bairro localizado no alto de um morro, tem apenas duas fileiras de casas, quase todas habitadas por artesãos que ganham a vida modelando bonecos de barro. A Casa onde viveu e morreu o Mestre Vitalino virou um museu que está localizado no centro do Alto do Moura. Após a morte do artista, a casa foi tombada pela prefeitura de Caruaru que, em 1971, criou e instalou ali a Casa-Museu Mestre Vitalino.

O acervo do pequeno museu é constituído por objetos pessoais, fotografias e alguns dos poucos móveis que pertenceram ao ceramista. Quem cuida do museu é um filho de Vitalino, Severino, funcionário público municipal que recebe um salário-mínimo pela tarefa. O acesso é gratuito e há poucas peças do mestre. Quem quiser conhecer a arte deixada por Vitalino tem que ir ao Museu do Barro, em Caruaru. Ali, há um acervo de mais de duas mil peças de cerâmica, distribuída em cinco ambientes.

Atualmente, o Alto do Moura é considerado pela Unesco como o maior Centro de Artes Figurativas das Américas, concentrando mais de 1.000 artesãos que moldam o dia-a-dia o homem nordestino. Lá, cada residência se transforma em ateliê, envolvendo toda a comunidade local, desde o mais simples ajudante àqueles que moldam o barro transformando-o em arte. Hoje, arte e artesãos vêem suas peças ultrapassarem as fronteiras do país, retratando sua cultura, seu povo e sua gente.

Um comentário:

Rachel Rabelo disse...

Por fazer parte deste mundo - Caruaru/Alto do Moura - posso dizer que sinto-me envaidecida com tão bela exposição fotográfica e em palavras desta região tão cheia de arte e simplicidade.
Abraços agradecidos pela divulgação de nossa terra, de nossa gente, de nossa arte.
Rachel Rabelo.