2 de outubro de 2009

O pesadelo de Alex

CRÔNICA

por Eduardo Alexandre

Ontem, na Quinta da Alegria, em Nazaré, a Aphoto foi foco de todas as conversas. O tema preferido, a sucessão de Alex. Coisa que, diga-se a bem da verdade, ter um sucessor, ele não cogita, e, por isso mesmo, pede para que se mude o rumo da prosa.
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- Hugo pensa que a Aphoto é uma esculhambação como a Samba, a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências. Não é, não! Aqui, só tem voz e voto quem está com a anuidade em dia e cumpre as obrigações estatutárias.
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Levanta a voz rouca e bate com a mão espaldada na mesa, elevando copos e cascos - não os dele, mas das cervejas -, derrubando alguns e fazendo da superfície leito de rio de líquido amarelo e pegajoso, espumante.
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- E eu vou perder os meus 60 contos, para Alex botar no bolso? Vou não! Prefiro, com esse dinheiro, pagar o ingresso do show de Roberta Sá, no Alberto Maranhão! Proclama Hugo.
Num pulo, para não se molhar, Leozito se levanta da cadeira e quando todos pensavam que ia iniciar discurso, calado, ele retirou um fio do bolso.
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Sentou-se e, em voz empolada, sentenciou:
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- É um cabo de conecção de fotos para celular. Foi o filho de Dunga que me deu, quando eu tinha um aparelho telefônico móvel igual a esse que ele tem hoje. Trouxe para Dunga, pois assim ele pode capturar as imagens do mundo a partir do seu celular e se filiar a Aphoto para ser seu próximo presidente.
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Ensaia-se um silêncio de estupefação na Travessa do Tesouro, logo quebrado pela voz incisiva de Hugo Macedo:
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- E tem meu apoio e já é meu candidato!
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Alex parecia não estar acreditando no que via e ouvia.
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- Logo você, Hugo? O meu melhor melhor amigo? Ainda bem que na Aphoto o mandato é de quatro anos e ainda faltam dois para o fim do meu mandato. Daqui pra lá, muitas águas ainda vão rolar. Vou melhorar o meu desempenho que já é bom, aí quero ver: não vai ter pra ninguém.
Toca um telefone esquecido sobre a mesa e Leo o pega, levando-o ao ouvido.
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- É Simone. Está dizendo que o telefone de Hugo inadvertidamente estava ligado, conectado ao dela, e que ouviu toda a conversa. Disse que também ia votar em Dunga. Adiantou que pagou a anuidade e que, portanto, estava quites com as obrigações estatutárias da entidade, ao contrário, de Hugo, questionado de voto pelo presidente Alex.
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- Agora vai! Reforça o coro o poeta ensandecido Plínio Sanderson.
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- E eu vou comprar uma xeretinha para Sandra, e vamos, os dois, nos filiar à Aphoto, só para votar em Dunga. Disse o escultor Franklin Serrão, hoje, depois de famosa crônica de Leo Sodré, conhecido nas adjacências por Jesus.
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Vermelho e retorcendo-se na cadeira, Alex, nervoso, apertava as mãos uma contra a outra:
- Ai, meu deus do céu! Ai, meu deus do céu! Ai, meu deus do céu! Ai, meu deus do céu! Vamos logo pro Bardalos pra ver se essa conversa muda.
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Os circunstantes são acordes e a mesa é desfeita, todos seguindo rumos do bar de Belmond.
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Lá chegando, na primeira mesa do jardim, estão a dramaturga Cláudia Magalhães e o jornalista Cefas Carvalho, este com uma máquina fotográfica a tiracolo, dependurada pelo pescoço.
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Cefas se levanta para recepcionar a comitiva egressa de Nazaré e vai direto ao assunto:
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- Amanhã vai ter expediente normal na Aphoto, Alex?
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- Normal. Por quê? Já perguntou apreensivo.
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- É que eu e Claudinha vamos lá. Vamos fazer nossa inscrição na associ...
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Sem deixar Cefas terminar a frase, Leo o interrompe, mirando Alex:
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- E vão votar em Dunga!
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- Ai, ai, ai meu deus do céu! Ai, meu deus do Céu. Ai,ai, ai meu Deus do céu! Reagiu Alex, elevando as mãos à cabeça.

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