10 de dezembro de 2009

A tradição do Boi Calemba em plena atividade

Fotos AG Sued
Boi Calemba do Mestre Elpídio se transformou no Ponto de Cultura “Boi Vivo”.
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Segundo a sabedoria do Mestre Câmara Cascudo, há várias denominações para o folguedo do Boi Calemba. Sua designação varia de acordo com os Estados. Na Amazônia, boi-bumbá; no Ceará, boi surubi ou surubim; no Rio Grande do Norte, boi calemba; em Santa Catarina, boi de mamão; etc.

A brincadeira conta a estória de um homem e um boi, ou seja, o contraste entre, a fragilidade do homem e a força bruta do boi e, por outro lado, a inteligência do homem e a estupidez do animal. Em Natal, o Boi Calemba do Mestre Elpídio é um dos folguedos mais antigo do Rio Grande do Norte, alcançando seu auge no tempo do prefeito Djalma Maranhão.

Em plena atividade, o Boi Calemba do Mestre Elpídio se transformou no Ponto de Cultura “Boi Vivo” para continua a brincadeira tradicional. De acordo com o repórter fotográfico e produtor cultural Lenilton Lima, a idéia de transformar o Boi Calemba do Mestre Elpídio em Ponto de Cultura é para manter a tradição do “Boi” viva, além da realização de oficinas para formar novos brincantes.

Lenilton Lima ressalta que Mestre Elpídio é um brincante remanescente da época do prefeito Djalma Maranhão e único mestre potiguar ganhador do Prêmio de Culturas Populares Humberto de Maracanã, em 2007. “Esse é uma dos Bois de Reis mais importantes do Estado”, afirmou o produtor cultural, ressaltando que o velho brincante é o motivo de inspiração do Ponto de Cultura “Boi Vivo”.

O encontro com o Mestre Elpídio se deu quando o Mestre foi até a República das Artes, conta Lenilton, indicada por Vera Rocha (trabalhava na Capitania das Artes) para que a República das Artes fizesse um trabalho para a restauração do Boi alguns figurinos para a trupe do Boi, mesmo sem dinheiro para o custeio das despesas. “Nesse encontro, a gente criou uma afinidade muito grande com o Mestre Elpídio”, ressaltou Lenilton Lima.

Uma vida no Boi de Reis

Entre os grandes mestres do folguedo potiguar, como Mestre Correia (Gongos de Caçola, de Ponta Negra), Manoel Marinheiro (Boi de Reis, Felipe Camarão), Cornélio Carpina (Araruna, Rocas), o Mestre Elpídio do Boi Calemba é o único vivo e em atividade que participou dos palcos do prefeito Djalma Maranhão, responsável pela “descoberta” de muito grupos folclóricos e apoio que dava a cultura popular.

De acordo com o próprio Mestre Elpídio, ele começou a brincar com o Boi de Reis aos 8 anos de idade, em Ceará Mirim, no início da década de 1930. “Eu comecei a dançar o Boi como Galante de um senhor chamado Vitalino. Mas, quem era o mestre do Boi era um cunhado dele chamado Eurico. Ele não sabia de nada”, revela o mestre, ressaltando que veio para Natal com a família no início dos anos 1940.

Em Natal, encontrou o Mestre Zé Targino que brincava com seu Boi Pintadinho, o cunhado como contra-mestre e o Elpídio como segundo Galante. Depois de um ano, muito insatisfeito com o comportamento do Mestre Zé Targino, Elpídio resolveu criar seu próprio Boi Calemba com o cunhado Mestre Manoel Curto. “Nós ensaiávamos num barraco Carrasco e brincava onde era chamado”, disse o Mestre Elpídio.

Depois de separado do Mestre Mané, o Boi do Mestre Elpídio tem feito brincadeiras durante mais de 50 anos e também tem ensinado a outras pessoas a “botar boi”, como o saudoso Mestre Manoel Marinheiro, do Boi de Reis de Felipe Camarão, que foi seu aluno. Conforme o folclorista Severino Vicente, o Mestre Elpídio é um dos altos mais importantes do Estado por mostrar no Boi Calemba um resgate do Boi de Reis original do século XVII, presente nos adereços, figurinos, personagens e na dramatização.

Apesar do Mestre Elpídio morar em Parnamirim, no bairro Coabinal, ele reclama que a Prefeitura não incentiva o Boi Calemba de nenhuma forma. “O prefeito da minha cidade não gosta de cultura. Ele prefere mandar busca os artistas de fora do que prestigiar o que a gente tem. Agora, ele anda dizendo que vai prestigiar a cultura e os artistas da terr. Vamos ver”, lamenta.

O Boi Calemba Potiguar

Apresentando durante o ciclo natalino, um dos mais conhecidos folguedos populares, é o Boi Calemba, que se exibe no período que vai de novembro até o início de janeiro. As primeiras exibições datam do século XVIII. Segundo Deífilo Gurgel, o Boi Calemba se diferencia dos outros “bois” brasileiros e não tem enredo, por ter se descaracterizado, “limitando-se o brinquedo hoje, pelo menos em Natal e em São Gonçalo, quase só as danças e cantigas”.

Do elenco se destaca o Mestre que, quase sempre, é o dono do espetáculo. Deífilo Gurgel conta que “os antigos Mestres de Boi Calembra de Ceará-Mirim e São José de Mipibu vinham a Natal contratar seus espetáculos empunhando uma espada desembainhada”, porque a espada simbolizava o poder.

Outro personagens: os Galantes são em número de quatro a oito. As duas damas são, na realidade, dois meninos vestidos de mulher. Os mascarados possuem os seguintes nomes: Mateus, Birico e Catirina. Entre as figuras, podem ser citadas: Burrinha, Bode, Cheque, Gigante e sua mulher Maria Zidora da Conceição Pia.

No Boi Calemba ainda há as figuras do Jaraguá, Mariquinha (mullher do Jaraguá), Maria Sai da Lata (irmã de Mariquinha), além de 4 tocadores (rebeca, triangulo, pandeiro e sanfona). Como disse Deífilo Gurgel: “O Boi é a figura central do folguedo. É o último que se apresenta. Depois que ele sai de cena, canta-se as despedidas”.

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