Me Encontro
Em nenhum dos lados,
nem sob, nem sobre,
mas entre.
No mínimo imaginado
e em cada folículo
dos teus pêlos.
Nos meridianos dos cabelos,
no Equador do teu pescoço,
nos sulcos digitais das mãos e dedos,
na derme e epiderme do teu dorso
eu me encontro.
Eu me encontro em cada gota exsudada.
No teu sangue,
nas tuas vísceras,
nas tuas tripas,
na tua baba.
Em cada gesto contorcido do teu gozo,
onde te emprenho
e, fecundando-te de mim,
me encontro assim
e não mais me tenho.
Esporo de mim mesmo no teu ventre germinado,
absorvendo-te o cálcio,
carbono do teu carbono,
no líquido amniótico naufragado.
Ora pai, ora rebento,
osmoso-me de ti, me desplacento
e qual fêmea parida,
vou lambendo-te por cria
e a própria cria sendo.
Em cada som do teu espectro
e nas cores dos teus gritos e silêncios.
Na lágrima de todos os motivos
e em todos os motivos de tua vestimenta
eu me encontro.
Na tua saia,
no teu seio,
no teu cio.
E quando grito ou silencio inda me encontro
aos escombros, por inteiro,
janeiro após janeiro,
no abraço onde seguro o teu ombro
com meu queixo,
me encontro e não te deixo.
Na fala altissonante dos papiros,
em que deixei meus versos mais sagrados,
embalados
na paz do cantochão dos teus suspiros.
em ti todo me encontro.
Um comentário:
Belíssimo poema!
Beju Alex!
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