Outros Poemas, de Bocage
“Se os deuses me conferissem
A suprema faculdade
D'espraiar a luz do dia,
E a nocturna escuridade:
Tarde no roxo horisonte,
Candida Aurora, assomaras;
Tarde as viçosas boninas
Com teu pranto rociaras.
O deus, de que és percursora,
Só duas horas, não mais,
Vibrara n'este hemispherio
Seus raios a Amor fataes.”
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Piedade, de João da Cruz e Sousa
"O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.
Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.
Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inútil nos amargos trilhos.
É como se o meu ser campadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!"
Leia outros poemas de Cruz e Sousa
Laranja-da-China, de Alcântara Machado
"Todos os dias úteis às dez e meia toma o bonde no Largo de Santa Cecília encrencando com o motorneiro.
- Quando a gente levanta o guarda
-chuva é para você parar essa joça! Ouviu, sua besta? Gosta de todos aqueles olhares fixos nele. Tira o chapéu. Passa a mão pela cabeleiraleonina. Enche as bochechas e dá um sopro comprido. Paga a passagem com dez mil-réis.
Exige o troco imediatamente.
- Não quero saber de conversa, seu galego. Passe já o troco. E dinheiro limpo, entendeu? Bom.
Retém o condutor com um gesto e verifica sossegadamente o troco.
- O quê? Retrato de Artur Bernardes? Deus me livre e guarde! Arranje outra nota."
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Serões da província, de Júlio Dinis
"Era por uma manhã de Abril de 18S2.O campo vestia-se de seus mais opulentos e matizados trajos.
O Minho estava fascinador.
Por toda a parte eram já espessuras frondosas e impenetráveis; sombras discretas; vales misteriosos e encantadores, graças ao claro--escuro, com que a vegetação renascente os coloria; colinas adornadas e festivas, como um trono de altar em capela rústica; enfloradíssimos silvados, veigas a exuberarem de vida; e, por entre tudo isto, casas de brancura ofuscante, e acima de tudo um céu sem nuvens, um céu azul, daquele azul dos céus napolitanos, a meu ver, tão culpados na existência dos lazzaroni."
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