28 de abril de 2010

Professor Carlos Reis abrirá os debates do I EELP

Foto: João Maria Teixeira
O ensaísta e professor português Carlos Reis será o primeiro conferencista do Encontro dos Escritores da Língua Portuguesa de Natal. O tema de abertura será “Literatura Lusófona: elo entre continentes e cultura” e terá como moderador o professor da UFRN Márcio de Lima Dantas e os debatedores serão os escritores Luís Cardoso Takas (Timor Leste) e os potiguares Diógenes da Cunha Lima e Ana Maria Cascudo.

Nascido em 1950, em Lisboa, Carlos Reis é professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Prestigiado, tem sido professor convidado em muitas outras Universidades de vários países, tais como Espanha, Alemanha, Brasil e Estados Unidos. Doutorado em Literatura Portuguesa dos séculos 19 e 20 e em Teoria da Narrativa, publicou nesta área vários livros de prestígio internacional e assinou dezenas de artigos em revistas universitárias. É coordenador da Edição Crítica da Obra do escritor Eça de Queirós, da História Crítica de Literatura Portuguesa e da Área de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade Aberta. Já exerceu o cargo de Diretor da Biblioteca Nacional de Portugal.

10 perguntas para o professor Carlos Reis

1) Carlos, na qualidade de escritor e estilista da língua portuguesa, com qual sentimento recebeu o convite para participar do I Encontro dos Escritores de Língua Portuguesa de Natal (EELP)? E por que considerou importante aceitar o convite?
Recebi o convite para estar em Natal com o natural interesse que me foi provocado por uma iniciativa que me parece muito importante: entendo que a oportunidade para conhecer escritores e leitores da língua portuguesa, oriundos de outros países que não Portugal, é um privilégio que muito me enriquece.

2) O senhor será um dos três conferencistas do encontro e irá abordar o tema “Literaturas Lusófonas: Elo entre continentes e culturas”. Qual será o viés da sua comunicação? Esse tema é recorrente nas suas palestras?
Tenho efetivamente refletido, nos últimos anos, acerca do destino da língua portuguesa enquanto idioma literário comum a vários povos, em vários países e continentes. Ao fazê-lo, tenho a noção de que de certa forma indago as diferenças e as singularidades que é possível surpreender naqueles povos, que vão incutindo também um timbre próprio no nosso idioma comum.

3) O senhor é natural dos Açores. Pode discorrer um pouco a respeito da literatura produzida na ilha? Como o senhor analisa o atual momento da literatura em língua portuguesa? É um momento positivo?
Desde há muito que nos Açores há uma produção literária importante. Nos Açores e a partir dos Açores, já que grandes escritores portugueses nascidos nos Açores, como Antero de Quental ou Vitorino Nemésio, são açorianos, mas viveram a maior parte das suas vidas fora dos Açores. Da literatura produzida nas ilhas digo que ela tende normalmente a inscrever nos temas que elabora sentidos que dizem respeito, de fato, a vivências insulares: o isolamento, o mar, a partida, a emigração, etc. Quanto às literaturas em língua portuguesa (assim mesmo, no plural), elas vivem hoje um tempo de enriquecimento e de diversificação que é também o da maturação das culturas em que se inscrevem e o de uma língua sempre renovada pela “respiração” daquelas culturas.

4) O fato do romancista José Saramago ter sido agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1998 lançou mais luzes sobre a literatura em língua portuguesa?
Certamente que sim. Vistas as coisas com objetividade, a literatura portuguesa tem padecido, desde há muito, de um certo “periferismo” que é o do próprio Portugal.

5) O senhor é entusiasta do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Quais as razões para essa defesa tão veemente?
Uma razão muito simples: um Acordo Ortográfico contribui para reforçar a coesão possível da língua portuguesa. Mas não basta um Acordo Ortográfica para que essa coesão esteja assegurada.

6) Outra atividade do senhor é a docência. Na sua avaliação, como se encontra o ensino da língua portuguesa nos países onde ela é falada?
Distingamos: nos países mais desenvolvidos (Portugal e o Brasil) a situação é de relativa normalidade. Nos países menos desenvolvidos (e talvez algumas zonas do Brasil), há ainda graves problemas de escolarização e de alfabetização que urge resolver.

7) Outra vertente do senhor é a devoção ao estudo da obra do escritor Eça de Queirós tendo publicado, inclusive, diversos livros sobre a obra queirosiana. Considera que o escritor de Os Maias tem o reconhecimento que merece nos países de língua portuguesa?
No Brasil, sem dúvida. Durante muitos anos (e em boa parte ainda hoje), Eça foi considerado o grande escritor português, origem de uma verdadeira devoção por parte de muitos queirosianos brasileiros.

8) Carlos, o senhor vem muito ao Brasil onde ministra cursos regulares de Literatura Portuguesa em Universidades Brasileiras. Quais os escritores brasileiros que o senhor mais admira? Pode comentar a obra deles?
Tenho uma grande admiração por Machado de Assis: pela forma como no seu tempo observou costumes e vida social, sempre através de um olhar habilmente irônico e mesmo melancólico, cultivando de maneira inovadora a forma do romance. Depois dele, muitos têm merecido a minha admiração: Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e o grande Drummond, entre outros.

9) O que separa literariamente o Brasil dos demais países de língua portuguesa?
O fato de ser este um país-continente, com muitas diferenças internas e com um grande potencial de inovação e de diversificação literária.

10) Para concluir, qual a importância desse tipo de encontro promovido pela Prefeitura de Natal e UCCLA para a língua portuguesa e o mundo lusófono?
Este encontro é um excelente motivo para o conhecimento mútuo de escritores e, através deles, de povos que falam a mesma língua. E é uma festa da língua. Por isso, ele é sabiamente o primeiro. Ou seja: o primeiro de muitos. Por essa razão, a Prefeitura de Natal e a UCCLA estão de parabéns!

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