28 de maio de 2010

Um poema de José Cabral Filho, Recife PE

Balada da Moça Amante

A moça tinha no leito
O corpo de madrugadas
e auroras interditadas.
E sob os olhos fechados,
premidos, em contrição,
encenações de pecados
faziam gestos de chão...

Os silêncios que passavam
beijavam luas partidas
que a moça tinha nas mãos...
E as confissões encerradas
nos lábios da moça amante
tinham raízes plantadas
no coração dos instantes.

No tempo havia mensagens,
Na noite desejos vãos,
nos abismos liquefeitos,
vazios, sem remissão...
E a moça jazia insone,
indiferente a futuros.
Seus dedos executavam
a sinfonia dos muros,
suas mãos jogavam pedras
em preconceitos escuros...

E as visões pressentidas
de cavalgadas estranhas
anunciaram a chegada
de gritos rasgando entranhas.
Eram as visões impossíveis,
há milênios invocadas.
As patas de mil centauros
despedaçando as estradas,
a avalanche dos medos
nas encostas escarpadas.

E a moça galgou distâncias
nas asas da escuridão.
Suas mãos cavaram fontes,
furaram a imensidão...
Das convulsões proclamadas
nas reticências do leito,
brotaram lírios desfeitos,
abortos de solidão...

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