Auto da Índia, de Gil Vicente
“À Farsa seguinte chamam Auto da Índia. Foi fundada sobre que üa mulher, estando já embarcado pera a Índia seu marido, lhe vieram dizer que estava desaviado e que já não ia; e ela, de pesar, está chorando e fala-lhe üa sua criada. Foi feita em Almada, representada à muito católica Rainha Dona Lianor. Era de 1509 anos.
Entram nela estas figuras: Ama, Moça, Castelhano, Lemos, Marido.
MOÇA Jesu! Jesu! que é ora isso? É porque se parte a armada?
AMA Olhade a mal estreada! Eu hei-de chorar por isso?
MOÇA Por minh' alma que cuidei e que sempre imaginei, que choráveis por noss' amo. AMA Por qual demo ou por qual gamo, ali, má hora, chorarei?"
Leia o texto na íntegra
Não sei quantas almas tenho, de Fernando Pessoa
“Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.”
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