16 de julho de 2010

Caminhos fotográficos

Por Luara Schamó

Como disse Chico Science na canção Risoflora, "eu sou um caranguejo e estou de andada". Esse é o espírito que move os amantes da fotografia que participam das Expedições Fotográficas "Mardikê! Mardokê!", "Feira do Alecrim" e "Cidades invisíveis" da SBPC Jovem. Mais do que captar imagens, as expedições foram ótimas oportunidades para reunir pessoas completamente diferentes, trocar experiências e conhecer a cidade de Natal por outro ângulo.

O resultado desses trabalhos estará exposto em grandes painéis, durante a realização da 62ª. Reunião da SBPC, de 25 a 30 de julho, na UFRN.

Todas as atenções são voltadas para cores, texturas, luz, contrastes, foco, abertura, exposição, pessoas e paisagens. Os participantes seguiram de olhos bem abertos e com câmeras na mão, vivenciando junto aos fotógrafos Ramón Vasconcelos, Alex Gurgel e Thyrone Domingos um mar de conhecimento e paixão pela fotografia.

Particularidades

Alex Gurgel, presidente da Aphoto - Associação Potiguar de Fotografia, que coordena a expedição "Feira do Alecrim", conta que "participar de uma expedição fotográfica é a melhor maneira de trocar ideias sobre a fotografia ou como fazer uma boa foto diante daquele cenário. Quando uma pessoa está fotografando, ela geralmente está sozinha. Numa expedição, a pessoa tem a oportunidade da integração com outros fotógrafos mais avançados e outros com as mesmas dúvidas e ávidos por aprender".

Para essa expedição não foram marcados encontros prévios, foi definido o ponto de encontro em frente ao Teatro Municipal Sandoval Wanderley e, dali, os 20 fotógrafos que se inscreveram para participar da atividade saíram clicando de tudo um pouco feira adentro, após algumas rápidas dicas de composição.

"O nível da galera está muito bom, provando que há jovens fotógrafos de talento. É importante ressaltar que não havia nenhum fotógrafo profissional no grupo", diz Alex Gurgel.

A tradicional feira do Alecrim é um mar de barracas, produtos, cores, cheiros, pessoas e bichos! Também é um local para encontros inusitados. Por exemplo, quando a turma passava diante de uma barraca que vendia queijos, todos ficaram espantados com um gato dormindo sobre uma barra de queijo de coalho. Uma menina alertou o vendedor, que retrucou calmamente: "pode deixar que o gato não come o queijo, porque ele é ensinado".

Outra expedição, coordenada pelo engenheiro químico e fotógrafo Thyrone Domingos, foi inspirada nas conversas de Marco Polo e Kublai Kan, das páginas do livro "Cidades Invisíveis", de Italo Calvino. Segundo Thyrone, a narrativa de Calvino oferece um olhar bem fotográfico sobre as cidades. Para exercitar esse olhar, ele também optou por não realizar encontros prévios e levou o grupo sem influências de regras e de forma crua para um dos locais mais amados e odiados da cidade, a ponte Newton Navarro, mirante privilegiado para observar a cidade de várias perspectivas e contemplar o encontro do rio com o mar.

No dia da expedição, as condições de luz não eram das melhores. "O dia chuvoso provocou uma experiência estranha: mar cinza e cidade azul", mas, apesar disso, a curiosidade, o empenho e o sorriso nos rostos dos fotógrafos eram unanimidade. Thyrone ressalta que o grande objetivo nesse exercício lúdico é se divertir, trocar experiências e somar olhares.

O equipamento é o de menos, muitos usam máquinas robustas e lentes especiais; outros se viram muito bem com as máquinas compactas apelidadas de "saboneteiras". Para Thyrone, é possível produzir boas fotos com máquinas mais simples, basta desenvolver a sensibilidade fotográfica.

"Há seis anos tenho saído para fotografar com um grupo de pessoas, instintivamente você vai desenvolvendo a sensibilidade, a criatividade e vai 'enxergando' o que não era capaz de ver", conta a aposentada Céres Bittencourt, que usa uma câmera Nykon D80 e objetivas 18-135mm e 70-300mm. Quando era mais nova, Céres encontrou algumas dificuldades.

"Quando era criança, gostava de ver fotos, na adolescência comecei a me interessar em clicar, só que minha mãe barrava um pouco por causa dos gastos em comprar e revelar os filmes", conta ela. Hoje, com renda própria, tempo livre e sem ninguém para impedir, Céres passou a se dedicar, estudar e investir na paixão pela fotografia.

Ao contrário da bem equipada Céres, tem gente que se virou muito bem com uma máquina "saboneteira". Lillyan Miany é uma iniciante que não se intimidou com os obstáculos e relata que "fotografar a Praia do Forte e a ponte Nilton Navarro foi maravilhoso, foi a primeira vez que fiz fotos lá e ainda estou aprendendo a lidar com fotos. Na expedição 'Natal e as cidades invisíveis' usei uma câmera compacta, que estava com defeitos, minhas fotos não ficaram como eu queria, mas isso não me prejudicou, deu para curtir e aproveitar esse passeio tranquilamente. Quando eu estava fotografando, havia pessoas que passavam de carro e buzinavam, chamando a atenção para serem fotografados."

Outra perspectiva

Já o fotógrafo Ramón Vasconcelos, intrigado com o tema da 62ª Reunião Anual da SBPC Ciências do mar: herança para o futuro, propôs a expedição "Mardikê! Mardokê!". Mas, afinal, que mar é esse? Mar de água salgada, de gente, de carros ou de botões? Antes de pôr o pé na rua, alguns encontros foram realizados para discutir um pouco sobre as fotos dos próprios expedidores. "A ideia foi estimular a visão particular da fotografia, descobrir e investir em características fotográficas e, se possível, começar a delinear um estilo, uma marca do fotógrafo", conta Ramón.

Assim, dentro de uma sala de aula foram trocadas críticas, elogios, dúvidas e experiências. Para o coordenador da expedição, "era importante haver um nivelamento do conhecimento, tanto técnico quanto mais conceitual e subjetivo, e saber por que uma foto ficou boa e outra ficou ruim; como consertar; como conseguir traduzir a emoção, a visão do momento para um fotograma".

Depois de saber a diferença entre o diafragma e o obturador e aprender a regra dos terços, os participantes nadaram num mar de ideias. Ramón Vasconcelos desafiou: "e aí, vai ser mar de quê?". Sem uma resposta conclusiva, William Lopes, um dos participantes, argumentou: "A gente precisa buscar originalidade, não importa o tema".

O resultado

Todas as fotos de todas as expedições serão exibidas em painéis de 4 metros por 2 metros de altura no Setor 1 da UFRN. Ramón conta que pensou na ideia do painel "como um todo, de forma que, pelo seu tamanho, seja visto de longe e possa haver uma certa unidade nas fotografias (por meio de cores, formas, texturas, etc.) que formem uma imagem "única" e, conforme o observador for se aproximando, vá descobrindo novas formas, novas visões, detalhes, nuances".

Os painéis guardam muitas surpresas. Thyrone Domingos garante: "por mais que duas pessoas tenham feito fotos uma ao lado da outra, serão duas fotos completamente diferentes". Para Alex Gurgel, "o resultado é muito surpreendente. Cada foto conta uma história diferente".

Ansiedade

Para os participantes é uma emoção dupla poder participar dessas vivências e ver seus trabalhos expostos com qualidade e destaque.

Céres Bittencourt anseia pela visibilidade: "Um painel com fotos de motivos da nossa cidade pode chamar bastante a atenção das pessoas que vêm de fora, mostrando o que temos de belo, e para as pessoas daqui mesmo, para pontos que desconhecem. É também uma oportunidade de mostrar que aqui em Natal existem profissionais (os coordenadores das expedições) muito bem qualificados". Lillyan Miany, por sua vez, não esconde sua felicidade.

Segundo ela, "conhecer a cidade por outro foco, para quem gosta de fotografia, é maravilhoso, você aprende e conhece coisas que nem imaginava existir. Me ajudou bastante a ter outros olhares, conhecer pessoas experientes em fotografia me passando algumas dicas, que com certeza vou levar por toda a minha vida". Mais uma vez, como diria Chico Science, "um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar".

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