Foto e texto: Alex Gurgel
Falta de assistência médica adequada no hospital Antônio Ferraz, de Macau, agravou o quadro de saúde do professor Benito Barros.
O intelectual macauense Benito Barros sofreu uma de isquemia cerebral (parecido com AVC) na noite de ontem e se submeteu a uma cirurgia no Hospital Promater, em Natal, para tentar retirar uma espécie de coagulo do cérebro. Agora, o estado de saúde do professor Benito é extremamente difícil, do ponto de vista médico, sendo um quadro irreversível.
Os médicos ainda precisam fazer alguns testes durante a noite para declarar a “morte cerebral”. Nesse momento, Benito Barros está em “coma induzido”, respirando por aparelhos e sem reflexos. Na tarde dessa sexta-feira, ele foi transferido para a UTI II da Promater e ficará em observação.
Macauense, ex-vereador, sociólogo, professor universitário, poeta e escritor, Benito Barros é um dos maiores conhecedores da história políticas de Macau. Autor do livro Macauísmos, contar a história do município a partir da década de 50. Benito ainda escreveu outros títulos como “Cardume de Sonhos”, “Cemitério de Pipas”, “Requém para o Infinito”, “Um ser tão...”, entre outros.
Em Macau, a saúde deficitária do Hospital Antônio Ferraz pode ter agravado o quadro de Benito Barros
O sociólogo Benito Barros pode ter sofrido de negligência médica por mais de 3 horas, esquecido dentro da enfermaria do Hospital Antônio Ferraz, em Macau. De acordo com a jornalista e produtora cultural, Dorotéa Dantas, fez uma ligação para seu amigo Benito Barros e outra pessoa atendeu ao telefone dizendo que Benito estava desacordado numa cama, no hospital.
Dorotéa conta que chamou o amigo Fernando de Zé Lopes e foram direto para o hospital quando se depararam com o professor deitado numa cama às 02 horas da tarde. A jornalista conta que o médico de plantão, doutor Marcos, deu à Benito Barros um medicamento pra pressão, sem desconfiar que o professor já estava dando sinais de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Segundo Dorotéa, o doutor Wilson chegou ao hospital para fazer um parto de uma paciente quando foi solicitado pela jornalista a olhar o estado de saúde de Benito Barros, que constatou imediatamente que o professor estava sofrendo de um AVC. “Eu dei escândalo quando vi meu amigo Benito sem o tratamento adequado”, disse.
“Quando o doutor Wilson detectou o AVC, a gente tinha que levar Benito para Natal”, relatou, porém Dorotéa percebeu que a única ambulância disponível não tinha para-brisas e nem retrovisor. Preocupada com a situação do amigo Benito Barros, Dorotéa autorizou que a ambulância sucateada transportasse o professor macauense para Natal.
Enquanto Dorotéa ligava para todos seus amigos tentando salvar o professor e amigo, chegaram ao Hospital Antônio Ferraz o secretário de saúde Doutor Diá acompanhado de Chico Paraíba e Arnaldo Marcelino. Nervosa, Dorotéa virouse para o secretário e desabafou indignada: “A culpa é sua doutor Diá”...
3 comentários:
Luto total pelo Professor Benito, Pelo pouco tempo que o conheci e pelas inumeras historias qe ouvimos sobre ele... O sentimento de perda para todo o estado do RN de uns dos maiores intelectuais e ainda por cima um ser humano maravilhoso. Luto pela familia, amigos, alunos, admiradores e reconhecedores de se trabalho... O mais revoltante de tudo isso, é que a idéia que o Prof° poderia ter sido salvo e não foi, em função da precariedade da saude publica e do responsável pelo atendimento da cidade de Macau é horrivel.
BENITO BARROS
O ÚLTIMO IMPERADOR
O sol brilhava nas terras da Casqueira. Bena I, esquecido de seu “sólio imperial”, procurava por algum súdito, como se fosse possível encontrar um súdito num império de sonhos!
Marujo temerário, muitos dias passaram até que Bena compreendesse que o império era ele, e que apenas as pipas morriam em seu cemitério...
Era difícil colher sozinho a estrela da manhã sobre o pássaro da noite; a poesia da tarde sobre o peito; a ausência do filho no espelho; o inesperado amanhecer do dia que não veio, onde seus passos caminhavam na pressa de nunca chegar, porque é sempre tarde para decidir, porque é sempre muito tarde para amanhecer, não a forma, mas a alma; não a navalha, mas o corte; não o rio, mas a água que passa diluída nas horas da manhã eterna onde seus passos jamais passaram...
Assim, Bena I, com a autoridade que a si concedeu, resolveu diluir-se nas águas de sua amada aquarela. Atirou seu coração ao rio, bradou ao universo e libertou seus poemas ao vento...
Nunca se ouviu falar de outro Imperador que tenha tomado atitude tão digna... Para nenhum outro Imperador escreveria essa carta:
– x –
são líquidas as palavras quando as escrevo
pássaros invisíveis da lembrança
a diluírem em mim o silêncio da fonte
escrevo mensagens antigas para os mortos
para os meus mortos
sou raiz com sede de passado
a poesia está nas cidades despovoadas
nas ruas desertas
na contida solidão do vazio
nada lembra o presente na ausência do que sou
o tempo é um lençol diáfano
na insustentável manhã do meu ser
o mundo não me diz muito de sua existência...
lembro-me bem dos mortos, dos meus mortos
por isso escrevo para eles
mando-lhes a essência das coisas que me cercam
a essência que está na mensagem antiga
na rígida e precisa mensagem antiga
e o futuro talvez esteja lá, pronto para nascer
de um passado que ainda não começou.
José Saddock de Albuquerque
Benito, educação, arte e cultura
Tive uma breve convivência com Profº Benito em dois momentos bem distintos, mas articulados pelos elos da educação, arte e cultura.
A primeira, em pleno da falta de liberdade no pais, quando participava das atividades da Pastoral de Juventude do Meio Popular; conversamos sobre a importância da cultura popular, da necessidade das ações políticas voltadas para o interesse social; dos grupos de cultura como protagonista da instalação da educação via cultura. Fiquei encantado com aquele Homem simples e culto. Quando voltei à casa paroquial, falei tudo para o amigo, atualmente, Pe. Murilo. O papo continuou com Pe. Murilo externando suas virtudes e vivacidades.
A segunda, foi quando ministrei aulas no curso de Pedagogia - UFPB, no qual Ele o Diretor. Sempre que solicitado, estava a dialogar com os estudantes universitários vindos dos diversos municípios da região. Tranqüilo, discreto, mas sempre que sobrava um tempo, estávamos a conversar sobre cultura, mas também sobre as possibilidades socio-economicas-politicas-culturais que a região oferece a sua brava gente. Nessa época li suas poesias, marcada pela realidade.
Aos seus familiares, deve ficar a certeza de um Homem dedicado a vida; aos seus amigos de cultura, a presença de Homem que compreende a cultura como a alma de seu povo.
Um abraço solidário
à tod@s.
Benito, seu espírito cultural estará sempre a ajudar Macau e região a trilhar pela liberdade.
Paulo Palhano
Profº RN UFPB
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