7 de junho de 2011

O ciúme ruidoso joyciano - Bloomsday 2001

João da Mata Costa

Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê

Tanta gente canta, tanta gente cala

Tantas almas esticadas no curtume

Sobre toda estrada, sobre toda sala

Paira, monstruosa, a sombra do ciúme

(Caetano , O Ciúme )

O Ulisses de James Joyce – o “blue book das eclésias “- é um livro sobre o amor. Leopold Bloom, o protagonista do romance que revolucionou a literatura universal, passa o dia perambulando por uma Irlanda ( terra da ira) decadente, e tem consciência da traição de Molly Bloom. São dezesseis horas e o relógio de cuco toca ... e nessa hora vesperal Molly recebe o amante em casa. “Eles são loucos para entrar de onde eles saíram”, diz Molly. Oito de setembro é o aniversário de sua amada e 16 de junho foi quando Joyce se apaixonou perdidamente por ela. As datas são muito importantes para o aquariano Joyce nascido no dia 02 de fevereiro. O tema do ciúme também está presente na sua única peça “Exílio” e no último conto de Dublinenses “The Dead” . Um dos maiores contos do século XX foi levado às telas por John Huston com o título “Os Vivos e os Mortos” (EUA 1987). No Ulisses, Joyce fala muito através dos sons. O leitor sente prazer e dor ao ouvir o som da trombeta, o suspiros das folhas, o ruído do mar e o som da água escoando no ralo da pia em espiral. A polissemia das palavras valise, da palavra montagem, da palavra ideograma encadeando novos sentidos. Joyce é um alquimista da palavra e a linguagem é o personagem principal desse imenso cipoal cheio de ruídos e labirintos que é esse enciclopédico romance Ulisses. “ Deus é um barulho na rua”.

“todos esse ruídos convergiram numa única sensação vital para mim: imaginava conduzir meu cálice incólume, através de uma multidão de inimigos”

Durante o dia de Bloom ele chega a um estado mental que é mais abnegação do que ciúme. Joyce evoluiu no tratamento desse tema desde suas primeiras criações literárias. É com uma grande pulsão verbal com que Joyce fala do amor numa féerie carnal pulsipulso.

“Ele beijou os fornudos ricudos amareludos cheirudos melões do seu rabo, em cada fornido melonoso hemisfério, na sua riquêga amarelêga rêga, com obscura prolongada provocante melonicheirosa osculação.”

Ao fim do episódio de Nausícaa (cap.13), o “relógio de cuco” informa a Bloom que ele é agora um corno. Cuco, cuco, cuco... cukoo-cloc; relógio de cuco e cuckold- corno.

No final, Ulisses “retorna” para casa (Ítaca) e encontra Penélope (cama). A mulhervaginabismo onde o homem se perde e jamais retorna. O romance encerra com um pungente monólogo de Molly Bloom. “yes, I said yes I will Yes oui jái dit oui je veux bien. SIM EU QUERO SIMS.

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