21 de janeiro de 2006

DOIS Poemas de Licurgo Carvalho

Receita Poética

Pegue uma dose de metáfora
Junte duas colheres de letrinhas
Adicione meio grama de rimas
Encontre um pedaço de alegoria
Use assonância até chegar ao ponto
Sirva o poema bem gelado

Para acompanhar a sextilha
Encontre frases usadas
Faça um caldo de assimetria
Mexa até virar um soneto
Tempere com loas parnasianas
Coma os versos de uma só vez

Relaxe ao som de pontos e virgulas
Navegue em baladas de antítese
Perceba a musicalidade em texto
Deixe que o vernáculo dance solto
Escute os gemidos dos signos
Aumente o volume da função poética

Espere a palavra vir excitada
Apalpe vagarosamente cada estrofe
Use o código da língua nas entranhas
Friccione com desejo a lírica moderna
Introduza páginas nas volúpias métricas
Goze como um poeta na metalinguagem

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Licurgo Carvalho
Currais Novos RN
Setembro de 2004


Amanhecença

Os primeiros raios castigavam a serra,
espreguiçando-se num céu sertanejo,
indo beijar as brancas nuvenzinhas
que corriam ao seu encontro.
O sol nascia para o dia.

Somente a luz branda e suave da manhã
clareava a terra e mansamente surpreendia
o galo-de-campina indolente que dormia
sob a copa de um juazeiro arredio.
Amanhecia o dia.

Manhã de um parnasiano travesso,
correndo sob a relva ainda úmida,
colhendo as lágrimas da noite
que tremiam como brilhantes
nas folhas das juremas.
Era um novo dia.

O sítio Quixabeira acordava em festa,
o galo-capão anunciava a labuta,
os brutos roçavam na beira do açude,
as lavadeiras iam para encantar o rio
e o menino traz água no lombo p’ru pote.
O Seridó vivia outro dia.

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Licurgo Carvalho
Currais Novos RN,
novembro de 2004.

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