Receita Poética
Pegue uma dose de metáfora
Junte duas colheres de letrinhas
Adicione meio grama de rimas
Encontre um pedaço de alegoria
Use assonância até chegar ao ponto
Sirva o poema bem gelado
Para acompanhar a sextilha
Encontre frases usadas
Faça um caldo de assimetria
Mexa até virar um soneto
Tempere com loas parnasianas
Coma os versos de uma só vez
Relaxe ao som de pontos e virgulas
Navegue em baladas de antítese
Perceba a musicalidade em texto
Deixe que o vernáculo dance solto
Escute os gemidos dos signos
Aumente o volume da função poética
Espere a palavra vir excitada
Apalpe vagarosamente cada estrofe
Use o código da língua nas entranhas
Friccione com desejo a lírica moderna
Introduza páginas nas volúpias métricas
Goze como um poeta na metalinguagem
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Licurgo Carvalho
Currais Novos RN
Setembro de 2004
Amanhecença
Os primeiros raios castigavam a serra,
espreguiçando-se num céu sertanejo,
indo beijar as brancas nuvenzinhas
que corriam ao seu encontro.
O sol nascia para o dia.
Somente a luz branda e suave da manhã
clareava a terra e mansamente surpreendia
o galo-de-campina indolente que dormia
sob a copa de um juazeiro arredio.
Amanhecia o dia.
Manhã de um parnasiano travesso,
correndo sob a relva ainda úmida,
colhendo as lágrimas da noite
que tremiam como brilhantes
nas folhas das juremas.
Era um novo dia.
O sítio Quixabeira acordava em festa,
o galo-capão anunciava a labuta,
os brutos roçavam na beira do açude,
as lavadeiras iam para encantar o rio
e o menino traz água no lombo p’ru pote.
O Seridó vivia outro dia.
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Licurgo Carvalho
Currais Novos RN,
novembro de 2004.
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