22 de janeiro de 2006

O traço expressionista de Franklin Serrão

Franlin Serrão e o quadro: Aldeia Pau Seco, em Cobaoba. Aldeia potiguar distante uma légua do Forte dos Reis Magos.


Foto e Texto: Alexandro Gurgel – jornalista

Pintor, ilustrador, professor, editor, cronista e boêmio, Franklin Serrão é um jovem talento que vem chamando a atenção de críticos de arte, despontando como uma das grandes promessas nas artes plásticas potiguar. Dono de um traço único, Serrão retrata em suas telas cenários expressionistas, acentuando com cores tropicais os ambientes figurados, explorando as sombras e luzes de uma forma homogenia.
Nasceu no Bairro Nordeste, onde fez fama de menino traquinas nos anos setenta. Filho do paraibano de Santa Rita, Fernando Serrão e dona Zuleide Serrão, seridoense de Jardim de Piranhas, Franklin já se destacava na escola com um forte traço para o desenho. Como todo pintor figurativista, começou desenhando e a pintura veio como uma evolução do desenho.
Aos 34 anos de idade, já experimentou vários segmentos na sua carreira polivalente. Trabalhou em gráfica, copiadora, ensinou geografia no Ensino Médio e Fundamental de escolas públicas, produziu eventos culturais, editou livros, ilustrou peças publicitárias e capas de livros. Durante algum tempo, foi colaborador assíduo do jornal VOZ DE NATAL como chargista. Era nos momentos em que estava desempregado que podia se dedicar intensamente à pintura. “Antes, era um estudo muito lento em cima da pintura, dividindo meu tempo com o trabalho”, ressaltou.
Conforme o artista, seu trabalho está se direcionando para o expressionismo figurativo, uma espécie de pintura tropical, usando tinta acrílica sobre telas feitas pelo próprio artista. “No expressionismo alemão as cores são muito nebulosas e as figuras são muito deformadas, o que não acontece no meu trabalho. Procuro fugir dessa caracterização”, afirmou.
Buscando aprimoramento para sua arte, Serrão tem estudado alguns artistas consagrados e confessa uma preferência pelos pintores: o mexicano Diego Rivera e os brasileiros Portinari e Di Cavalcanti. Em terras cascudianas, sua pintura recebeu leve influencia de Newton Navarro e Assis Marinho. Hoje, adquiriu um estilo próprio, sendo sua arte reconhecida por sua maneira singular de pintar. Sua técnica expressionista alia-se a traços coloridos e livres, esculpem volume, luz e sombras aos ambientes.
Franklin Serrão participou de várias exposições coletivas de arte, entre elas a “III Mostra de Arte Prata da Casa”, realizada na Base Aérea de Recife, onde conquistou o 1º lugar na categoria ‘pintura’ com a obra “Auto retrato”. Em maio último, realizou sua primeira exposição individual “Expressionismo”, na galeria de artes do Bardallos, em Natal.
Atualmente, Serrão tem trabalhado numa série de quadros, cujo tema é o cotidiano dos botequins da Cidade Alta, surgido da sua participação na confraria do Beco da Lama, de onde veio a inspiração. “É lá que vamos encontrar os artistas verdadeiros. Uma coisa é você ver a teoria, outra é ir ou Beco e ver as coisas acontecerem na prática”, frisou.
Segundo o artista, a dificuldade de todo pintor é a escolha do tema. Às vezes, o tema vem por encomenda do cliente, mas, na maioria dos casos, pela observação do artista. Dom Quixote, Lampião, São Franciso, Santa Ceia, cangaço, retirantes e sertanejo, são temas apreciados e os mais procurados. “Um caboclo tangendo o boi, gado no pasto, jagunços e vaqueiros, cenas bucólicas do sertão são mais procuradas do que nossas praias enfadonhas e festas populares produzidas, que não são autenticas do anseio popular”, disse.
A veia de escritor Serrão despertou quando os editores do jornal cultural “O Potiguar”, João Gothardo Emericiano e Moura Neto abriram espaço para seus textos, o incentivando a escrever. Atualmente, seus artigos e crônicas têm espaço no Jornal de Hoje, Tribuna do Norte e Diário de Natal. Aliando artes plásticas ao texto, o artista/escritor trabalha no projeto do livro “Memórias de Botequim”, narrando e retratando os acontecimentos dos últimos dez anos que testemunhou, vividos na boêmia natalense.
Segundo Serrão, não há condições de viver trabalhando com artes plásticas em Natal. Em sua opinião, o artista tem que ser eclético, produzindo muito e sobreviver com outra função, transcendendo a pintura, como ilustrar livros, trabalhos publicitários e editar material livresco.
Recentemente, o artista ilustrou o livro de cordel do poeta Manoel Azevedo, “Cordel da Cachaça”. Serrão e o poeta mantêm uma editora chamada “Serrote Preto”, e vai lançar outro livro, um cordel histórico do século passado, “O ABC dos Canelas”, do poeta Preto Salvador, narrando o massacre em Santana dos Matos.
Em novembro, Franklin Serrão vai fazer uma exposição individual na Feira de Sebos de Natal, na praça André de Albuquerque. O tema da exposição será “Dom Quixote De La Mancha”, em homenagem aos 400 anos desse clássico da literatura espanhola, escrito durante o cárcere por Miguel de Cevantes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro Alex: Um texto oportuno. E que o Grande Ponto tenha vida longa no mundo virtual da internet. Um abraço.