29 de março de 2006

Nas Varandas das Adjacências

Seu Milton e Dona Nazaré, casal Número Um do Beco da Lama.


Por Fícus Lacertae,
Do Galho da Imprensa


Outro dia resolvi sair do meu galho, ainda cheio de confetes jogados por Dunga, na Praça André de Albuquerque. Estava sem graça de ir para o Beco. Queria ver novos horizontes e resolvi descer para a Ribeira "velha de guerra". Resolvi que iria tomar umas três cervejas lá na Peixada Potengi e pensei: "é capaz de eu encontrar o cineasta Lula Augusto, para, "além do Beco", colocarmos a conversa em dia. Quem sabe falar de Palocci, da política econômica de Mantega, do caseiro, etc. Acontece, que quando eu comecei a descer a ladeira da Avenida Câmara Cascudo, veio uma ventania de arrepiar. Me levantou alto e somente por milagre eu não caí nas águas sujas do Potengi amado de Newton Navarro. Subi tão alto, que entrei pela janela da Prefeitura, que estava aberta - justo no gabinete do prefeito-, que em meio a um redemoinho de papéis, olhava para o nada, com aquele jeito distante que ele tem, sorriso de campanha no rosto, pensamento distante, a cabeça torta para a direita. Aí eu gritei:
-E aí Táta?
E não é que ele respondeu... Sem olhar para mim, foi logo dizendo:
-Aquelas pesquisas estão erradas. Eu sou é popular! Muito!
Mas, nem deu tempo de bater um papo com ele, porque o vento me levou em direção a Capitania das Artes. Era um vento tão forte que eu emburaquei pela janela e fui bater num pátio onde tinha uma ruma de menino aprendendo a dizer "brurrarrá". Uma mulher gritava:
-"Brurrarrá"!
E a turma respondia:
-"Brurrarrá"
Um beleza! Quando passei por cima – no meu vôo acidental – provoquei:
-"Ta melhor! Ta melhor! O Rio Grande do Norte ta melhor!" - bem alto.
E sabe o que aconteceu? Todo mundo estirou o dedo para mim.
Bom, eu queria ir para a Ribeira, mas o vento me deixou lá nas Rocas. E, aí eu pensei: como é que eu vou voltar? Do tamanho que eu sou, vou levar um mês!
Mas, como sou sortudo, peguei carona num vira lata que estava indo para a cidade. Ele nem notou e a única parada foi para comer um cadela sem-vergonha que estava fazendo ponto na esquina da Tavares de Lira. Aí, fiquei enjoado com aquele fuque-fuque e com os músculos doídos porque tive que fazer força para me agarrar nas costas daquele tarado, que sentiu prazer bem umas três vezes.
Quando cheguei em Nazaré, só tinha Alex Gurgel conversando com Seu Milton. Falavam sobre o amor e Milton estava dizendo que ia comprar um buquê para Naza e escrever um bilhete. Ele disse, com os olhos revirando em direção ao ventilador:
-Vai começar assim, com o título: "Uma fulora do mato para uma dama linda".
Aí, Alex não se agüentou e corrigiu:
-Fulora não seu Milton. Flor, que fica mais bonito...
Humilde, ele concordou na hora, completando:
-Você veja o que é a natureza... Ultimamente o povo anda errando é muito nos títulos, mas não tem nada não, que eu ia levar para aquele menino careca, corretor de imóveis, que mora lá no tirol. Ele sabe um português danado!
Alex ficou confuso:
-O careca que mora no tirol é Dunga. E ele também vende imóveis?
-Foi você quem disse na internet – retrucou o apaixonado Milton, com olhar de quem não está entendendo mais nada.

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