14 de agosto de 2006

Chico Doido de Caicó

FRAGMENTOS DE UMA ENTREVISTA

Afinal, Chico Véio, você existiu mesmo?
Ô xente, minha Nossa Senhora das Bucetanças, o fato de estar mortinho da silva não quer dizer que eu não tenha existido, viu, seu minino! O ator pernambucano Emanuel Cavalcanti, muito amigo do seu amigo Zé Marinho, uma vez me viu na Feira de São Cristóvão, tá sabendo!?! E o historiador Neto Araújo, de Caicó, não confirmou a minha vivença pra você mesmo, e para o seu irmão, nos idos de 1994, lá na cidade que cantei em prosa e verso?

Bem, na verdade ele apenas supôs que você poderia ter sido o órfão conhecido como Chico de Manuel Avelino, um vivente muito do presepeiro e mulherengo na Caicó dos anos 40, e que, de lá saindo para a marinha mercante, nunca mais voltara...
Então, sou o próprio! Juro pelo Nosso Senhor das Boas Trepadas!

Mas Chico, você, como amigo de São Francisco de Assis, precisa se comportar mais adequadamente do alto de seu Plano Astral, em pleno Além. Não fale assim...
Mas Chiquim de Assis é uma energia muito destabocada, assim como esse vosso Chico Véio.

Na última entrevista que você concedeu ao Balaio, afirmava que continuava sentindo uma saudade danada do sexo da mulher e de...
Deixa de ser abestalhado, seu minino, isso aí tem nome, variando de lugar para lugar: buceta, xota, xoxota, xereca, xibiu, priquita, pirsiguida, perereca, quiquiriquinha, catedral-do-amor, palácio-dos-mil-prazeres, santa-quentura, santa-perdição, flor-dos-mil-pecados, flor-do-cheiro-quente, lambedeira, gruta-dos-mil-amores, doce-quentura, flor-de-jabuticaba, triângulo-das-tentações, doce-vaginilda, maria-da-noite. Ou será que lá no plano terrestre os homens agora renegam a pirsiguida e só querem dar o foba?

Não é nada disso, Chico Véio, continua tendo gosto pra tudo. Mas continuemos... Aliás, você, o maior mulherengo de Caicó e adjacências, sempre respeitou os viados...
Os viados e todos os animais da fauna humana. Até fiz um poema em homenagem a eles, baseado num poeta português, que também foi num foi aparece por aqui. Veja só, seu seridoense acariocado de uma figa:

Homem com homem
Mulher com mulher
Pessoa com pessoa.
Tudo vale a pena
Se a foda não é pequena.

Os doutores das letras têm uma palavra pra esse tipo de homenagem-metaplágio, mas deixa pra lá que isso é de pouca serventia no mundo dos mortos.

Entre os seus poemas, mais de 200, qual o que você mais gosta?
Escute só, pode não ser o melhor, mas hoje é o que me parece mais representativo:

A rapariga que eu mais quis bem
Me dava dinheiro
Me dava cigarro
Me dava cafuné
Me dava cachaça
Me dava embalo na rede
Me dava tudo
Só não me dava o cu.

Ainda se lembra que você foi patrono de uma turma de formandos de Comunicação da UFF, a turma do segundo semestre de 93?
Claro! E eu, mesmo no Além, iria me esquecer daquele 4 de março de 94? Cada minina bonita... Me senti mais feliz do que quando me lançaram à Academia Brasileira de Letras. Aquilo ali é uma bosta.

Dá para acompanhar a poesia brasileira do momento -- ou as energias que o envolvem não lhe permitem ter uma visão mais clara da vida terrena?
Até que dá... Gosto de Glauco Mattoso, gosto de Sebastião Nunes, de Bráulio Tavares, do Bom trepador de Lúcia Nobre, gosto do poeta que me revelou para a vida literária: Nei Leandro. Gosto dos poetas populares anônimos. Mas, confesso, às vezes misturobeio tudo: o que seria um poema de Bráulio pode ser do Nei, ou vice-versa. Um poema da Lúcia pode ser do Bráulio, um poema do Tião pode ser de um poeta popular.

Se vivo ainda fosse, você estaria fazendo o quê, com seus 80 anos?
Em primeiro lugar, lambendo xibius; em segundo lugar, lambendo rapaduras; em terceiro lugar, não estaria lambendo o saco de ninguém. Sou caicoense dos bons, viu!?!

Publicado no Balaio Vermelho, em 14 de agosto de 2006.
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