11 de agosto de 2006

A sedução e a palavra

Nei Leandro de Castro

EscritorAbimael da Silva, audaz navegante dos livros, é um grande sedutor. Só mesmo ele, com aquele jeito sonso dos nativos de Várzea, poderia convencer Ivan Maciel a publicar o seu primeiro livro. E que livro! Quatrocentas páginas de erudição sem frescura, escrita fina, humor e outros atributos. Ivan vai de uma análise profunda do universo de Marcel Proust às aventuras de uma adolescente de minissaia, em pleno inverno nova-iorquino, acabando o namoro por um celular; vai da crítica literária, com uma lucidez e um rigor que vejo em poucos críticos brasileiros, a uma viagem em boa companhia, com muita emoção. Ivan teimava em condenar as suas palavras a um exílio sombrio que prejudicava principalmente os seus leitores. Agora, graças ao sedutor Abimael da Silva, ele pode ser lido, relido, curtido, no livro que tem o título de O Exílio das Palavras. Como se não bastasse, o prefácio é de Sanderson Negreiros.
Na esteira do lançamento do livro de Ivan Maciel, Abimael faz planos para publicar uma seleção das crônicas que escrevo neste espaço da TN há cerca de dois anos. O jogo de sedução já começou. Ele me promete um lançamento nas varandas do restaurante Guinza, numa noite em que uma lua cheia de amor estiver seduzindo o mar de Ponta Negra. Não haverá discursos e Khrystal cantará as mais belas canções da MPB. O bufê será indicado por Jota Oliveira. O vinho generoso (“vin d’honneur”, segundo Abimael) será oferecido por Manoel Onofre Jr., que adora essas extravagâncias. Pra completar, Diógenes da Cunha Lima, um esbanjador à altura do cordialíssimo Manoel Onofre, entrará com 10 caixas de Old Parr. Resistir quem há-de?
Difícil mesmo vai ser Abimael da Silva convencer Woden Madruga a publicar uma seleção de seus artigos e crônicas, que dariam mais volumes do que A Comédia Humana de Balzac. Só de Tribuna do Norte são 47 anos no dia-a-dia de escrita saborosa, de quem sabe escrever, de quem já leu todos os livros e, hélas!, já não bebe Cointreau como antigamente. WM tem uma memória privilegiada. Poucas pessoas passeiam pelo passado de Natal com tanto conhecimento de causa. O seu prefácio para o livro Almas de Rapina, de Alex Nascimento, é uma preciosidade. Essa e muitas outras preciosidades precisam entrar para a coleção da editora Sebo Vermelho.
Num futuro bem próximo, Abimael vai tentar seduzir o mossoroense Marcos Ferreira, que mostrou como se usa uma metralhadora giratória, na entrevista que concedeu a Alexandro Gurgel, para a revista Papangu n° 30. O entrevistado, de família muito pobre, analfabeto até os onze anos de idade, demonstra muita inteligência, boa bagagem literária e grande facilidade de se expressar. A palavra exata, a frase certa, o raciocínio muito claro, tudo sai dele num bate-pronto certeiro. Bom, existe em Marcos Ferreira um certo mossoroísmo, ou seja, a eterna viagem em volta do umbigo de Mossoró, mas isso é normal entre os nativos da terra onde chuva de bala é uma festa. Aos 36 anos de idade, esse menino é uma fera ferina. A observação que ele faz sobre a Academia Norte-rio-grandense de Letras está à altura do melhor Agripino Griecco. Espero que Abimael publique os contos e poemas de Marcos, pra gente ficar sabendo se ele é tão bom na poesia e na ficção quanto nas suas tiradas de ferro e fogo.
Crônica publicada na Tribuna do Norte, em 11 de agosto de 2006.

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