18 de agosto de 2006

Um jeito Khrystalino de cantar


Foto e texto: Alexandro Gurgel

A primeira vez que vi Khrystal cantar foi durante o show “Cosern Musical”, há quatro anos atrás, ao lado da Praça Cívica. Era época natalina, um grupo de músicos potiguares fazia uma homenagem à Natal, cantando louvores à Cidade dos Reis Magos. A superprodução era de Zé Dias, que reuniu em um único projeto, o que há de melhor na musicalidade do Estado.

Uma pequena multidão se aglomerava, sentando diante do palco onde eu estava ao lado de Cléo, minha esposa. Ficamos deslumbrados ouvindo Khrystal cantar “Linda Baby” - um poema de Pedrinho Mendes que tornou-se o hino de Natal. A voz magnética daquela menina baixinha, para mim desconhecida, ecoava pela praça e seduzia minha’alma como sua maneira ‘khrystalina’ de canta as coisas da nossa terra.

No carnaval de Ponta Negra, dancei frevo e marchinhas ouvindo as músicas que Khrystal cantava, relembrando antigos carnavais. Fiquei surpreso com sua evolução musical, sua performance no palco. O Festival de Música do Beco da Lama, o MPBeco, foi o último show que vi Krystal cantando para uma multidão exaltada que gritava seu nome pelo Grande Ponto.

Confesso que já havia me tornado um fã quando fui designado pelo editor Túlio Ratto para fazer uma matéria exclusiva com Khrystal para as páginas da Papangu. Trocamos telefone via internet com promessas de uma conversação. No horário e lugar ajustado, ela chegou cheia de simpatia, bem falantes, gesticulando muito.

Com um pitada de orgulho, Khrystal começou falando sobre seu nascimento musical no Beco da Lama, no Bar de Pedrinho Abech, por volta de seis ou sete anos atrás. O bar era um sítio acolhedor de todas as tribos da cidade, onde havia uma atmosfera nova, algo deslumbrante em torno da jovem cantora. Ela nunca tinha vivido num ambiente que respirava arte o dia inteiro. “Eu era atraída ao bar porque havia exposição de artes plásticas, música e pessoas interessantes”, ressaltou.

Naquela época, Khrystal revela que era muito inexperiente, tinha uma voz muito esganiçada e pouco sabia lidar com o microfone. No bar havia uma guitarra, usada por ela para fazer um som para uma audiência de amigos e, às vezes, Pedrinho também entrava em cena, tocando bateria. Foi durante as apresentações no Beco da Lama que conheceu o músico Carlança e ficou encantada com o som que saía da sua guitarra. “Ele tem uma tremenda musicalidade e me ensinou muito do que sei hoje”, disse. Também travou amizades com Donizete Lima, Luís Gadelha, Pedro Mendes e tantos outros. “Quando comecei a cantar, Cida Lobo estava na frase de transição para São Paulo, mas tive o prazer de conviver um pouco com ela”.

Khrystal lembra que, quando cantava em barzinhos, gostava de cantar MPB. Sua canção preferida era “Minha História”, de Chico Buarque de Holanda, numa fase muito boêmia, com um repertório recheado da melhor música brasileira. “Eu cantavam Lobão, Cássia Eler, Adriana Calcanhoto, etc. Eu continuo gostando desses ídolos, mas hoje meu prazer é cantar de uma forma diferente”, frisou.

Apesar de sentir saudades daqueles tempos, onde as dificuldades eram estímulos para continuar cantando, Khrystal disse que atualmente há uma estrutura profissional para trabalhar, tendo ao seu lado o produtor cultural Zé Dias, seu empresário. “Zé Dias foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Ele não é só meu marido. É ele quem produz o show, que segura a onda, que vai atrás de cachê e tudo mais. Eu fico mais relaxada para trabalhar”.

Recentemente, Khrystal lançou um disco “demo” chamado “Meia dúzia ou seis”, com seis canções para promover sua música, distribuindo com profissionais de rádio, jornalistas, amigos e produtores musicais. “Pra valer mesmo, eu nunca gravei um disco. Estamos finalizando o meu primeiro cd e é totalmente diferente das paradas que eu fazia antes”, disse entusiasmada.

Seu primeiro disco será intitulado “Coisa de Preto”, que segundo Khrystal, são coisas que remetem a maneira doce, descontraída e cheia de swing para encarar a vida da melhor forma possível. A música que dá nome ao disco é um samba-funk, escrita em parceria com Tertuliano Aires, conhecido como Cabrito, “uma pessoa que amo de paixão e um grande poeta”, frisou.

Conforme Khrystal, o disco traz novas leituras do coco cantado no Rio Grande do Norte. Ela confessa que não é cantora de coco, mas decidiu homenagear o ritmo porque é pouco conhecido numa terra onde tem os cocos de Ganzá e de Zambê. Nesse disco, Krystal interpreta o poeta Jacinto Silva, Elino Julião, Galvão Filho, Babal, Aldir Blank, Lenine Pinto, Kátia de França, entre outros.

Apesar da musicalidade de Elino Julião ser reconhecida como forró, Khrystal afirmou que fez outra roupagem na música “Forró da Coréia”, um som mais pesado, em ritmo de rock. “Fizemos uma coisa arrepiante, que não deixa de ser coco, que não deixa de ser rock e não deixa de ser forró. É música”, completou. Nos shows, Krystal é acompanhada por uma banda composta por Franklin Novaes, no piano e violas - o maestro responsável pelos arranjos do disco. Ricardo Baia no baixo, Zé Fontes na guitarra e na bateria, Didja Novaes, o filho de Franklin. “Eu também gravei Kátia de França e eu a admiro muito, ela tem uma nordestinidade muito profunda, sem entrar na pieguice. Se ela tiver a oportunidade de participar do lançamento, vai ser muito bom”.

O disco e o show “Coisa de Preto” serão lançados no final de agosto, no Palácio da Cultura. Em setembro, Khrystal e banda partem para uma temporada na Casa da Ribeira. A cantora afirmou que os ensaios já estão na parte final e garantiu mostrar uma musicalidade brasileira pouco conhecida pelo grande público. “A temática do show será mostrar, através da música, um Brasil que o próprio povo brasileiro não conhece”, afirmou.

Nossa entrevista deixa transparecer a certeza que a música potiguar vive uma ebulição qualitativa, tendo a cantora Khrystal como uma autêntica representante dessa geração. Recentemente, Krystal esteve em Mossoró para mostrar alguns cocos, dando uma palhinha do que será seu novo trabalho, exaltando a musicalidade de Jacinto Silva e Elino Julião. Agora, nos resta esperar que os ventos de agosto soprem Krystal para os palcos potiguares, presenteando a todos com seu talento.
Texto publicado na revista Papangu número 30, edição de julho de 2006.

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