8 de setembro de 2006

Uma carta de Marcos Ferreira

Foto: Alexandro Gurgel
Na praça de alimentação do Natal Shopping, da esquerda para a direita: Antoniel Campos, Hugo Macedo e Marcos Ferreira.


Mossoró-RN, 2 de setembro de 2006

Caro Alexandro Gurgel,

meu dileto fofoqueiro...

Adorei esta minha recente estada em Natal, especialmente pela companhia e reencontro com alguns amigos como Hugo Macedo, Antoniel Campos, Lívio Oliveira, Honório de Medeiros, Tácito Costa, Yasmine Lemos, Júnior da Offset, Júlio César Pimenta, Cefas Carvalho, Plínio Sanderson, José Torres, Meire Gomes, Dunga, Jairo Souza, Amâncio e vossemecê, claro. Pois todo este meu acesso de colunista social é tão-só para dizer-lhe que sou grato por tudo, pela amizade amiga, pelo companheirismo, pelo carinho e simpatia com que vocês me acolheram nestas poucas, mas agradáveis horas em sua bela cidade dos Reis Magos.

Lamento, porém, não ter podido conhecer, não ter sido apresentado a outras figuras emblemáticas desse meio, gente como Oswaldo e Laélio Ferreira — ambos do Beco da Lama, suponho. Também me teria agradado um encontro, ainda que breve e muito fortuito, com dois prosadores de escol deste nosso Estado elefantino: Nei Leandro de Castro e Vicente Serejo — ele mesmo, o casmurro Vicente Serejo.

A meu ver, no campo da prosa, são duas grandes expressões que nossa vexatória vida literária contemporânea tem a apresentar ao resto do Brasil. Se um romance como aquele "As Pelejas de Ojuara" fosse lavra de um Ariano Suassuna ou Jorge Amado, por exemplo, aí tenha paciência que o mundo viria abaixo mais do que depressa.

No mínimo, a picaresca trama de Nei já teria sido coroada com o Prêmio Jabuti, que por muito menos foi conferido (salvo engano) a um ficcionista cacete e a um poeta menor como Rubem Fonseca e Lêdo Ivo, respectivamente.

Por sua vez, o cronista do O Jornal de Hoje, que recria com tanta arte e bom gosto as penas em que vive, ele que é uma espécie de sonetista da prosa, com seu texto sempre tão bem escandido e metrificado, destaca-se como um dos poucos, raríssimos, escrevinhadores desta província que conseguem realmente resgatar a crônica de sua injusta condição de gênero inferior. Para mim, apesar da suposta vaidade e imodéstia de que se queixam inimigos e confrades do sisudo cronista, Serejo é muito maior do que pode supor a nossa vã antipatia.

Quanto às opiniões contidas na cartinha do livreiro Abimael da Silva, missiva esta equivocada nalguns pontos mas extremamente necessária à discussão literária da hora, ele que me fez empregar quarenta dinheiros na aquisição do romance "Canto de Muro", de Câmara Cascudo, relançado nessa ediçãozinha safada impressa pela editora Global, saiba que tais críticas são tão bem-vindas quanto as nótulas favoráveis à entrevista que lhe concedi para o número 30 de Papangu.

Até porque, seja dito, meu reencontro com o festejado Seboso Vermelho ocorreu de maneira muito amena, cordialíssima, prova de que nem sempre as divergências, as controvérsias intelectuais, são motivos para hostilidades e desavenças entre os homens de engenho. Mês que entra, havendo espaço, lógico!, publicarei na Papangu "um pequeno argumento" com que pretendo enfocar certos equívocos do afoito negociante de livros e egos, mas apenas com o mínimo intuito de aquecer o debate em torno desta enorme ficção chamada literatura potiguar.

No mais, meu dileto fofoqueiro, agradeço-lhe também pelo remesso das "chapas" que o nobre retratista bateu com este escrevinhador de somenos importância para as letras nacionais do País de Mossoró.

Ah, antes que me esqueça, confio-lhe este último obséquio: quando em companhia do bardo Antoniel Campos, tenha a bondade de avisar ao homem de "A Esfera" que esqueci no carro dele, Antony Well, o meu "Beco Estreito" (de Hugo Macedo), adquirido ao preço de quinze cruzeiros na ocasião do seu lançamento na livraria Siciliano.

Bom, vá botando aí na conta que, por enquanto, é só.

Grande abraço deste seu criado

Marcos Ferreira

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