19 de outubro de 2006

Praninguém

Divulgação
Painel do artista Franklin Serrão à memória de Nasi, no Beco da Lama, foi apagado para dar lugar a uma propaganda de uma banca de jogo do bicho.

Eduardo Alexandre

O painel retratando Nasi preparando uma meladinha, feito durante o I Pratodomundo, em 2003, pelo artista plástico Franklin Serrão, em festa da SAMBA, a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, já não é mais para todos: o jogo do bicho o levou.
Uma grande pintura comercial da Paratodos, empresa que explora o jogo de bicho, tomou lugar da arte que retrava o mais expressivo personagem do Beco da Lama e adjacências.
E sem necessidade: por todo canto, esquina a esquina, existem comerciais iguais, em casas exploradoras do jogo, às vezes, uma vizinha a outra.
O obra de Franklin Serrão, situada em pleno Beco da Lama, Rua Dr. José Ivo, em homenagem àquele que durante mais de 30 anos de labuta diária popularizou a meladinha e manteve viva a boemia que se esvaía na Cidade Alta, bairro que deu origem a cidade do Natal, não existe mais.
Por ironia ou provocação, o mesmo bar, aquele que firmou-se na memória popular como o Bar de Nasi, mesmo sem nunca ter tido um letreiro em sua fachada que dissesse isso, hoje chama-se Bar da Meladinha, usando o produto que Nasi popularizou, como o atrativo principal da casa.
Fica o letreiro da Paratodos. Fica o letreiro do Bar da Meladinha. Vai-se a memória de Nasi. Vai-se mais um dos painéis que artistas confeccionaram gratuitamente para a cidade.
Fica a revolta contra a insensibilidade. E fica também a certeza de nossa incapacidade social em conter a fúria esmagadora do capital que tudo compra e se firma, humilhando, destruindo, jogando ao nunca mais um pouco do registro que se tentou fazer de uma época.

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