20 de outubro de 2006

Memórias pedagógicas de um escrevinhador metido a professor

AG Sued
Bolachas creme craker e bananas fazem parte do cardápio da merenda escolar do Tributo à Criança.

Por Alexandro Gurgel

Parte I

Natal, 12 de setembro de 2006.

“Um país se faz com homens e livros”
Monteiro Lobato

Ontem, fiz os primeiros contatos com a escola selecionada para participar do estágio requerido pela professora Daniella Lago, comandante da disciplina Prática de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura no 1º e 2º Graus, do curso de Letras da UFRN. Na verdade, não é o modelo de escola tradicional que estamos acostumados, mas um projeto educacional de política pública que tem como objetivo o combate à marginalização de jovens que vivem abaixo da linha de pobreza.

Desde 1997, o projeto “Tributo à Criança” concede benefício financeiro mensal às famílias carentes que mantêm seus filhos em sala de aula, objetivando o crescimento de matrícula na rede pública de ensino. O benefício varia entre 60 a 130 reais, dependendo do número de menores inscritos. A família que mantiver 01 criança no projeto terá direito a R$ 60,00; 02 crianças R$ 90,00 e a partir de 03 jovens o valor é R$ 130,00.

Para implantar o “Tributo à Criança” em 1997, pela então prefeita Wilma de Faria, a Prefeitura de Natal instalou casas de referência nos bairros de Natal para abrigar crianças e adolescentes em situação de risco. A filosofia do programa não é apenas manter a criança em sala de aula, mas ocupá-la com atividades culturais e desportivas, evitando que a criança fique na rua, na mendicância.

Crianças que estudam pela manhã em escolas públicas, participam das atividades do “Tributo à Criança” à tarde, ficando 04 horas em atividades diversas (aqueles alunos que estudam à tarde, participam do projeto pela manhã), acompanhadas por estudantes universitários, selecionados de acordo com a área de atuação. Dentro do projeto “Tributo à Criança” funcionam 05 Núcleos de Apoio à Criança e ao Adolescente, nas quatro regiões da cidade.

Conversei demoradamente com a senhora Maria das Graças Pereira da Costa, diretora do 2º Núcleo Educacional de Apoio à Criança e ao Adolescente, funcionando num prédio alugado na Avenida Bernardo Vieira, 1130, no bairro Quintas. Maria das Graças é formada em História pela Universidade Potiguar (UNP), em Teologia pelo Instituto de Teologia Pastoral de Natal (Itepan) e é pós-graduada em Gestão Educacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Há 27 anos trabalhando na Secretaria de Educação do Município, Maria das Graças está à frente do “Tributo à Criança”, dirigindo o 2º Núcleo Educacional, durante os últimos 07 anos. De acordo com a diretora, o prédio abriga 550 crianças durante os dois turnos, além de fazer um trabalho de socialização com 450 mães dos adolescentes assistidos pelo projeto.

Rosto arredondado, cabelo liso levemente repartido para seu lado esquerdo, escorrido na altura dos ombros, “Dona Graça” (como é reconhecida pelos seus auxiliares) me pareceu, aos primeiros olhares, uma mulher determinada em manter o projeto “Tributo à Criança” funcionando da melhor maneira possível. Um par de óculos lhe fornece um semblante de professora que já passou dos cinqüenta anos.

Depois da conversa inquisitória com dona Graça, Concita (minha colega de Letras e parceira nesse trabalho educacional) me levou para conhecer as instalações do prédio (o qual pretendo abordar noutro momento) e apresentou este escrevinhador aos outros colegas de ofício. No final da tarde, ainda participei da “merenda” vespertina - duas bananas e um punhado de bolachas tipo creme cracker - servida em pratos azuis e somente saboreada após um discurso proferido por dona Graça.

Nos próximos encontros com o projeto “Tributo à Criança”, levarei a ficha de sondagem, de observação e a entrevista, para maiores detalhes.

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