23 de novembro de 2006

Festa Literária na Ribeira

Por Rafael Duarte

O conto olhou para a crônica e garantiu que a poesia iria aparecer para o primeiro encontro. À mesa, com as terceiras intenções de sempre, o romance guardava lugar ao lado de quem sentasse à cabeceira. Na hora marcada, o barulho tomou conta da sala. Era de fato a poesia, disfarçada de letra de música e acompanhada dos velhos amigos de boêmia, que convocava a todos para três dias de farra literária.
A pedida durante os próximos três dias, quando uma legião de escritores nacionais e locais baixa no largo da rua Chile, Ribeira, para o 1o Encontro Natalense de Escritores (ENE), é discutir a produção literária do país. Uma reunião sem preconceito de gênero, onde a ficção e o realismo, a pobreza e a riqueza das letras de hoje estarão no divã.
A escalação de autores está confirmada com Zuenir Ventura, Rui Castro, Villas Boas-Corrêa, Antônio Cícero, Nelson Motta, Ignácio Loyola Brandão, Heloísa Seixas, Affonso Romano de Sant’Anna, Jorge Mautner, Capinan, Arnaldo Nisker, além da nova safra da literatura nacional e potiguar representada por Antônio Prata, André Laurentino, Marcelino Freire, Pablo Capistrano e a turma dos Jovens Escribas formada por Carlos Fialho, Patrício Júnior e Thiago de Góes.
São mais de 40 convidados. Ao todo, 12 debates e lançamentos de livros, além dos shows de Paulinho da Viola, André Mehmari e Ná Ozetti, e Roberta Sá estão confirmados na programação do encontro. O espaço coberto comporta 850 pessoas. A entrada para todas as palestras e shows é gratuita, mas o público deve retirar as senhas antecipadamente nas bilheterias. O acesso ao local deverá ser feito pela avenida Duque de Caxias e rua Silva Jardim.
A estrutura do evento será instalada sob uma grande tenda branca. Na parte interna, o espaço será dividido entre o palco para os debates e shows, sala vip, camarim, 700 cadeiras, um pequeno Bistrot do restaurante Calígula, a Cooperativa da UFRN e o Sebo Vermelho - únicas livrarias convidadas para vender livros durante os três dias de encontro.
Hoje, a partir das 16h, o público vai ouvir o que os convidados tem a dizer sobre “Jovens Escribas - uma nova literatura”, “Novas narrativas - do Blog ao livro”, “Redefinindo o Centro e a Periferia” e “Ficção e não-ficção”. Fechando o primeiro dia, a fineza do samba de Paulinho da Viola.
O historiador Luís da Câmara Cascudo é o homenageado da primeira edição da festa. No próximo sábado, Humberto Hermenegildo, Marcos Moraes, Emerson TIN e Constância Lima Duarte vão debater a “Escritura Epistolar de Câmara Cascudo”.
Embora os especialistas tenham formação acadêmica, o presidente da Fundação Capitania das Artes, Dácio Galvão, acredita que será um debate instigante. “A margem da produção está vindo da universidade, mas a obra literária de cada um transcende essa questão. Tenho certeza que não vai ser uma discussão chata porque o encontro não vai ter os teóricos da matéria, embora de certa forma isso seja importante”, disse.
Galvão afirma que o ENE chega para se associar a dois outros eventos ligados à área: Feira de sebos e a Bienal. “Esse encontro veio ocupar um espaço do debate estritamente literário mesmo, se associa à feira de sebos, que trabalha com a disseminação de livros, e a Bienal, que é mais um evento de livreiros, o que não é demérito algum. Mas no ENE, o debate e as vozes dos escritores terão predominância total e absoluta”, analisa, admitindo que o encontro foi inspirado na festa literária internacional de Parati, no Rio de Janeiro. Ele não teme que a presença de nomes consagrados da imprensa e da literatura nacional transforme o encontro num desfile de famosos porque todos os convidados estão produzindo e lançando novos trabalhos. “De jeito nenhum. Entre o mito e a realidade, entre a obra e o autor, vai ficar meio indissociado. A primeira noite de debates, por exemplo, será encerrada com uma discussão entre Rui Castro e Heloísa Seixas sobre ficção e não-ficção. Isso está dentro do próprio processo criativo dele. Não tinha como isso não ocorrer, vai ser um belo encontro”, acredita.
Mercado literário
O encontro é de escritores, o debate é de idéias, mas tem novidade também no mercado literário. Pelo menos 12 publicações entre livros e revistas, com tiragem nacional e local, estarão à disposição do público.
Se o encontro fosse premiar a editora recordista de lançamentos, o editor Abimael Silva levaria o troféu para casa. Em cada dia, o dono do Sebo Vermelho espera lançar duas novidades da recém-criada coleção “Clássicos Potiguares”. E olha que o “recém” aqui não é modo de escrever, não! “Decidi criar essa coleção ontem. A idéia é reeditar os livros de grande relevância para o Rio Grande do Norte. Em 1908, o governador Alberto Maranhão, em parceria com Henrique Castriciano, fizeram uma lei obrigado o Estado a fazer esse trabalho, mas acabaram com isso. Amanhã (hoje) sai o ‘Natal de Ontem’, de Pedro Melo de Alcântara, que fala da cidade com apenas 20 mil habitantes, e ‘Garrafas de Areia do Tibau’, de Veríssimo de Melo. Na sexta vou com 'Lampião na fazenda Veneza' e 'Bilhetes de Lampião e respostas de Raul Fernandes', ambos de Raul Fernandes. E no sábado lanço 'Câmara Cascudo em Quadrinhos', do padre José Luiz da Silva, Alcides Sales e Anchieta Fernandes, e 'Vida Potiguar', de Policarpo Feitosa”.
Além dele, Roberto da Silva (“Consagração e Glória: Cartas a João Lyra Filho”), Napoleão de Paiva Souza (“Depois Comigo”), Jorge Mautner (“O filho do Holocausto”), Nelson Mota (“Ao som do mar e à luz do céu profundo”), Rui Castro e Heloísa Seixas (“Um filme é para sempre”).
Matéria publicada na Tribuna do Norte, em 23 de novembro de 2006.

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