1 de novembro de 2006

Memórias pedagógicas de um escrevinhador metido a professor - Parte IV

Cabeleireiras em ação fazendo asseio capilar nas crianças do Tributo.

Natal, 26 de setembro de 2006.

"Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança:
estar sempre alegre, nunca ficar inativo
e chorar com força por tudo o que se quer." (Paulo Leminski)
Quando cheguei à sala de aula, atrasado e ofegante, o professor Ary já falava sobre as eleições que ocorreriam no próximo domingo, dia 1º de outubro. Com muito esforço, sempre pedindo a atenção daqueles alunos alheios ao assunto, o professor Ary discorreu sobre a importância do pleito e a responsabilidade de cada pessoa na hora de votar e escolher nossos representantes no poder.
O professor usou a propaganda eleitoral para exemplificar noções de cidadania, onde todos têm direitos e deveres perante uma sociedade democrática. Como forma de exercitar a tal cidadania e, de forma mais pedagógica, envolvendo os alunos no objeto da discussão, o professor tentou simular uma eleição entre os presentes. Imediatamente, uma algazarra tomou conta da turma por vários minutos. Outros alunos entravam na sala de aula para saber o que estava acontecendo. Poucos percebiam a presença do professor Ary. Algum tempo se passou até que alguém trouxe o aviso sobre um grupo de cortadeira de cabelos na escola e, aqueles que desejassem, poderiam cortar a cabeleira sem custos.
A aula acabou mais cedo porque havia algumas mulheres, aprendizes de um curso de cabeleireiro, treinando seus conhecimentos capilares nas cabeças das crianças e adolescentes assistidos pelo “Tributo à Criança”. A monitora das penteadoras, Maria Gorete de Araújo, disse que aquele era o último estágio das profissionais, uma forma de juntar o “útil ao agradável”, aludindo que não haveria custos para as famílias da criançada e todos ficariam bem aparentados.
Concita, professor Ary e eu fizemos uma pequena reunião para poder decidir o que faríamos nas nossas aulas práticas. Decidimos ficar na “sala dos professores”, lugar mais tranqüilo naquele momento. Mas, para nossa falta de sorte, em pouco tempo a sala foi ocupada pelas professoras que havia liberado as crianças para o asseio capilar.
Procuramos um lugar para uma rápida conversa, deixando a reunião para outra ocasião. Aproveitei para preencher a Ficha de Sondagem com o professor Ary, que prontamente se designou a responder tal registro de características pessoais. Na conta de vinte minutos, terminamos a sessão inquisitória. O professor voltou a juntar-se aos demais profissionais em volta da mesa para saborear a merenda, cujo prato do dia era um saboroso mungunzá, acompanhado com biscoitos crocantes e café preto. Um manjar!

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