29 de janeiro de 2007

Revista Papangu comemora três anos colecionando histórias

Por Márcio Alexandre

A revista Papangu já faz parte do cotidiano dos mossoroenses. A publicação está comemorando três anos de circulação, "para tristeza de alguns e alegria da maioria", como bem define o seu fundador, o chargista Túlio Ratto, 34 anos.
A afirmação de Ratto tem um sentido. É que ao longo desses quase 36 meses de existência, a Papangu, ao passo em que caiu no gosto de seus inúmeros leitores, granjeou também a antipatia de uma grande parcela dos que compõem a imprensa mossoroense.
"Nossa proposta sempre foi de fazer algo diferente do que a maioria dos órgãos de comunicação da cidade faz. Não queríamos ser ombusdman, mas também não desejamos ir pela mesma linha de alguns. Talvez por isso a gente sofra boicote em algumas redações", argumenta, apontando para uma suposta subserviência de parte da mídia local aos ocupantes do Palácio da Resistência.
A fina ironia e o sarcasmo são matéria-prima abundantes na Papangu, que faz uma análise cultural e bem-humorada dos principais fatos e personagens do Rio Grande do Norte, especialmente da área política.
Das 35 edições publicadas até agora (a 36ª sai ainda esta semana), duas marcaram a trajetória da revista na opinião do chargista Ratto. A que mais repercutiu, segundo ele, foi a que estampou na capa a "Prefeita Ninfeta", uma brincadeira com uma das famosas gafes da prefeita Fátima Rosado que, ao se definir como principiante na arte de governar, trocou neófita por ninfeta.
"Muita gente achou que tínhamos desrespeitado a prefeita, mas não houve desrespeito", garante o editor.
Já a que Ratto gostou mais foi a edição que trouxe o "Quarteto Bombástico", uma paródia do filme Quarteto Fantátisco", que trazia como personagens os principais envolvidos no caso mensalão. "Pra mim foi a que ficou melhor".
Ratto acredita que muitas vezes, os acólitos dos "homenageados" pela Papangu ficam mais chateados que a própria pessoa enfocada numa determinada reportagem. "Se os bajuladores não ficassem espezinhando, acredito que não haveria tanto problema".
Ele cita que a própria prefeita Fátima Rosado amadureceu bastante nos últimos tempos e encara as críticas da revista com naturalidade. Outro exemplo é a governadora Wilma de Faria. "Ela é a recordista de capas, mesmo assim não tem raiva da gente", acredita.
O mesmo bom humor presente nas páginas da Papangu é percebido no discurso de Ratto. Questionado sobre a motivação para a criação da publicação, Ratto dispara, sem meias-palavras, consciente de que sabe o que diz e de quem ainda não conseguiu o que deseja: "Ganhar dinheiro".
A sua revelação enfática não deixa de ser força de expressão, afinal as dificuldades financeiras sempre acompanharam a Papangu. A pindaíba somente foi amenizada depois que, em 2005, a revista passou a ser contemplada com a Lei de Incentivo à Cultura. Pela lei, empresas que pagam até R$ 100 mil de Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) podem deduzir 2% do total utilizado para financiar projetos artístico-culturais.
Por ser bastante crítica e trazer comentários ácidos, a Papangu deveria estar colecionando, além das boas histórias, alguns processos judiciais. Mas é o próprio Túlio Ratto quem está processando alguém. "Sobre isso só falo em juízo", afirma, quando instado a falar sobre quem e porque está processando esse seu desafeto.
A Papangu se notabiliza pelo humor e pela cultura. Em seu time de colaboradores constam os nomes de Damião Nobre (resenhas musicais), Raildon Lucena (cinema), Jotta Paiva (política), Antônio Alvino (crônicas), Alex Gurgel (cultura), Davi Leite (artigos), Clauder Arcanjo (poesia), Yasmine Lemos (cronista), Marco Túlio (cronista), Cefas Carvalho (cronista) e Antônio Capistrano (artigos).
Ratto não se cansa de elogiar seus colaboradores. "O sucesso da revista se deve à sorte que tive de arranjar esses colaboradores. É gente da melhor qualidade", assegura.
Além dos nomes citados, também fazem parte da revista Carlos José, Adriana Oliveira e o próprio Ratto. Entre os nomes que passaram pelas páginas da Papangu se destacam Cid Augusto, Marcos Ferreira, Franklin Jorge, Antônia Líria, Lívio Oliveira e Milton Marques. "Aliás, uma das pessoas que mais me incentivaram foi Cid Augusto", lembra Ratto, citando ainda o apoio que recebeu do jornalista Gilberto de Sousa.

"A Próxima edição promete", afirma Ratto

A revista Papangu poderia estar bem estruturada financeiramente. Propostas para isso não faltaram. Quem garante é o Túlio Ratto, explicando porque as recusou. "Um dos proponentes se ofereceu para bancar toda a revista, sob a condição de instituir um conselho editorial, e este ficaria responsável para definir o que seria ou não publicado. Não aceitei de jeito nenhum. Ou sai tudo o que eu quero ou eu fecho", afirma, sem rodeios.
O editor, inclusive, avisa que as edições trarão críticas cada vez mais contundentes. "A próxima edição promete", anuncia, em tom de mistério.
A promessa feita por Ratto não se refere ao fato de a publicação trazer, no próximo número, uma entrevista com o cantor Raimundo Fagner. Ele deixou subentendido que fará, ao estilo Papangu, uma denúncia de impacto.
Além da entrevista, a Papangu traz sessões como "Em Cartaz", na qual parodia um filme com um fato político ocorrido em terras potiguares; "Troféu", gentilmente cedido à personalidade política que tiver cometido a maior gafe, "Fratura Exposta", espaço em que, de forma bem humorada, denuncia um problema que vem prejudicando a população mossoroense.
Tendo estudado apenas até o Ensino Médio, Túlio Ratto é autodidata em desenho e informática. Como se percebe, pela sua trajetória, a prática só tem contribuído para aperfeiçoar sua arte. Não só a pictórica, mas, e principalmente, a arte de criticar de forma sutil, inteligente e sagaz.

Matéria publicada no jornal O Mossoroense, em 28 de janeiro de 2007.

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