7 de fevereiro de 2007

Um marco para a História Potiguar

Fotos: AG Sued
Inaugurados painéis fotográficos que contam a história da Fortaleza dos Reis Magos e da fundação da cidade.

Por Alexandro Gurgel

A Fortaleza dos Reis Magos constitui-se no marco principal do entrelaçamento das culturas européia e nativa, onde se desenvolveu toda a dinâmica social, em seus múltiplos e variados aspectos, dando origem a colonização da Capitania do Rio Grande, servindo, ainda, de referência e apoio às fundações dos Estados do Ceará, Maranhão, Pará e à conquista do Norte do Brasil.

No início de janeiro, a presidenta da Fundação José Augusto, Isaura Rosado, inaugurou a exposição “Fortaleza dos Reis Magos: O Marco da História Potiguar”, com o objetivo de renovar o interesse e manter viva a chama da cultura que cerca aquele local. A Fortaleza sempre teve um papel importante na história e no turismo da cidade, mas nos últimos tempos vinha perdendo atrativos para novos monumentos, festas e até mesmo centros comerciais que surgiram no município.

O Governo do Estado investiu mais de 80 mil Reais para essa exposição de longa duração, que irá ilustrar o sítio por, no mínimo, 10 anos. Os centenários salões da Fortaleza dos Reis Magos abrigam enormes painéis fotográficos para contar a história da fundação de Natal e a construção do próprio Forte. No primeiro piso da Fortaleza são quatro painéis nas paredes, com mapas da época do descobrimento, cenas de caravelas, índios, holandeses e jesuítas, medindo 2,5m de altura.

A exposição conta com um acervo extremamente amplo que foi coletado em diversas e importantes fontes históricas como Instituto Histórico e Geográfico do RN, IPHAN, CEDOC/FJA, Arquivo Histórico do Exercito (RJ), Biblioteca Nacional (RJ), acervo particular do arquiteto João Maurício Miranda, além de fontes bibliográficas. Todos os painéis são feitos com uma técnica chamada de arte a metro. Essa técnica é usada, por exemplo, no Forte de Copacabana que abriga exposição semelhante.

O artista gráfico Antônio Lucena é o responsável pela concepção e impressão dos painéis, tendo o suporte da fotógrafa, produtora e pesquisadora Ianê Heusi. Os dois foram convidados pela museóloga Ana Maria Miranda, através da Fundação José Augusto, para desenvolver o projeto. A idéia da presidenta da FJA, Isaura Rosado, é uma exposição permanente dos painéis e, enquanto os turistas visitam a quatrocentenária Fortaleza, suas paredes internas contam a história potiguar.

Os painéis são feitos de material resistente, já que a localização da Fortaleza é propícia para receber muita influência de fatores externos como a maresia, que serão distribuídos por tema em 10 cômodos da Fortaleza. “Utilizamos uma tecnologia de impressão fotográfica em qualquer superfície. Os painéis do Forte dos Reis Magos serão feitos de lona 'vinílica', um material resistente ao sal, evitando a corrosão pela maresia”, ressaltou o artista gráfico Antônio Lucena.

Para representar os heróis potiguares foram usados manequins cenográficos, em tamanho natural. Mascarenhas Homem está sentado em sua mesa, na sala de comando do Forte dos Reis Magos, decorada com moveis e utensílios da época. Numa outra sala, estão outros nomes importantes da colonização do Rio Grande do Norte como Jerônimo de Albuquerque e Felipe Camarão (o índio Poti), vestidos com toda a indumentária do século XVI.

Uma das salas está reservada ao Marco de Touros, que já faz parte do acervo da Fortaleza, com painéis contando a história de sua instalação, além de uma Bandeira da Ordem de Cristo. Dois outros ambientes mostram o contexto histórico em que o local se encontrava no período colonial, com um dos manequins e a bandeira de Dom João III e a bandeira Real.

O histórico da Fortaleza é apresentado em dois cômodos diferentes e conta com mais um manequim, a bandeira de Domínio Holandês, quatro painéis e um acervo arqueológico que foi encontrado no local, na época da construção da passarela de acesso à Fortaleza. Uma das salas será ainda destinada à exposições temporárias e, na capela, será feita a ambientação com imagens dos Reis Magos. Em outras três salas, a exposição será dedicada à Fortaleza como elemento de inspiração de diversas manifestações artísticas.


Turismo, história, arte e cultura


Turistas visitam a exposição dentro da Fortaleza dos Reis Magos.

De acordo com Isaura Rosado, a proposta de inserir o Forte dos Reis Magos em um contexto histórico surge da necessidade de proporcionar ao visitante, o entendimento de sua importância na origem sócio-econômica da cidade; a compreensão de métodos e meios que serviam ao senso geopolítico da época; o conhecimento das campanhas militares e seus personagens heróicos e, sua atuação como força precursora na formação da cidade.

A exposição permanente “Fortaleza dos Reis Magos: O Marco da História Potiguar” busca ampliar o significado do sítio histórico, agregando ao ponto turístico conteúdo capaz de enriquecer a vivência cultural do visitante em geral e do potiguar. A intenção dos organizadores é tornar o espaço para o aproveitamento de escolas, contribuindo na formação de crianças e, ainda, com a valorização das passagens heróicas, desenvolvendo a cidadania da população.

“Esse exposição pontua o abraço do turismo e da cultura no nosso Estado, além de funcionar como elemento didático, sendo salas de aulas naturais para contar a história do RN às nossas crianças. A exposição ainda vai definir o padrão da comercialização das lembranças que o Patrimônio Cultural Potiguar pode oferecer aos turistas que visitam a Fortaleza dos Reis Magos”, enfatizou a presidenta da FJA.

Conforme o jornalista Eduardo Alexandre, coordenador do Centro de Documentação Cultural do Estado (Cedoc), a exposição é da mais alta significância para a cultura do Estado. “Os painéis fotográficos em designer moderno, ricos em textos e ilustrações, contam de forma simples a História inicial do Brasil, da Fortaleza dos Reis Magos e da cidade do Natal”, disse.

A Fundação José Augusto revitalizou a Fortaleza dos Reis Magos e seu entorno, com intenções de abrigar as mais diversas expressões das artes, tais como exposições temporárias, saraus, concertos e, ainda, torná-lo um local aprazível de lazer, buscando alcançar o retorno social que o custo de sua manutenção requer. Ao mesmo tempo, resgatando e valorizando a importância daquele magnífico monumento, riquíssimo em história e em exemplos de bravura e patriotismo, para o Estado do Rio Grande do Norte, para a Cidade de Natal e, fundamentalmente, para a sociedade potiguar.

A Fortaleza dos Reis Magos

Em formato de estrela, a imponente Fortaleza dos Reis Magos, no encontro do Rio Potengi e o mar, protegeu a cidade do Natal.

Guardando imponente a foz do rio Potengi, a Fortaleza dos Reis Magos é o mais importante monumento histórico de Natal, projeto do Padre Gaspar de Sampares, jesuíta com sólidos conhecimentos de engenharia, que compunha a expedição comandada por Mascarenhas Homem, vinda de Portugal com a finalidade de expulsar os franceses, construir um forte e fundar a cidade.

Mais antigo que a própria cidade, a Fortaleza começou a ser construída em 6 de janeiro de 1598, dia dos Santos Reis. Não passava então de uma típica instalação militar do século XVI, uma frágil garantia de segurança para os portugueses, em constante embate contra franceses e índios. Seis meses depois, João Rodrigues Colaço assumiu o cargo de Capitão-Mor da Fortaleza.

Reconstruída seguidamente, manteve sempre as características da planta original.

Sua forma atual, lembrando uma estrela de cinco pontas, surgiu somente em 1614, num projeto do arquiteto militar Francisco Frias de Mesquita. Concluído em 1628, o novo forte ficou pouco tempo nas mãos dos portugueses. Em 1633, foi conquistado pelos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, passando a chamar-se Castelo de Keulen.

O domínio holandês na região durou duas décadas e, durante este período, o Forte dos Reis Magos serviu não apenas como instalação de defesa, mas também de prisão para brasileiros e portugueses e casa de hóspedes para personalidades, como o príncipe Maurício de Nassau.

A Fortaleza foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 15 de janeiro de 1949 e em 1965, incorporada ao patrimônio cultural da Fundação José Augusto, por decreto governamental.

Hoje, o Velho Bastião, quer pela arquitetura militar portuguesa, quer pela história que encerra, quer pela expressiva visitação de nacionais e estrangeiros, destaca-se como importante pólo no universo turístico-cultural do Estado do Rio Grande do Norte.

Texto publicado na revista Papangu, 36ª edição, janeiro de 2007.

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