29 de abril de 2007

Em nome de Kaliene

ARTIGO

Rubens Lemos Filho (Jornalista)

Íamos em grupos, abecedistas e americanos no mesmo ônibus, cantando os hinos de cada um. Descíamos ali onde hoje é um restaurante de comida árabe. Partíamos para a arquibancada munidos de amor. Todos uniformizados. Cada um para o seu lado. Ao final, voltávamos para casa pegando a condução no lugar onde agora é um templo literalmente universal.

Bem, assim eram os clássicos do meu tempo. De craques de sobra e paz ao redor. Nossas famílias sossegavam. Nada havia a temer. Éramos torcedores, não bandidos travestidos. Lembro bem da Camisa 12, da Fanamérica, da TIA, se desdobrando para ver quem soltava mais rojões, quem coloria de preto, branco e vermelho o colosso da Lagoa Nova.

Acabou. Hoje eu tenho duas cadeiras cativas no estádio do ABC. Comprei uma para mim e a outra para o meu filho de 14 anos. Ele nunca pisou lá. Nem vai tão cedo. No lugar dele, quando eu tenho disposição de sair de casa, vai comigo um segurança. Não crio meu menino para conviver com marginais.

Na primeira partida, domingo passado, me liga aflito um amigo, dirigindo o seu carro, ele e o seu garoto, pertinho já do Frasqueirão, em frente à Tererê Churrascaria. O pau literalmente cantava. Facções se digladiavam tomando os dois lados da Rota do Sol num cenário deprimente.

Ele ainda conseguiu assistir ao jogo, assombrado. Não vai neste domingo, muito menos eu. Não vou não é por medo, mas por revolta diante de tanta hipocrisia. Se quisessem já teriam banido, prendido e condenado os delinqüentes que usam o escudo dos nossos clubes gloriosos para expandir sua sociopatia.

Cansei dos discursos sociológicos, das reuniões que não dão em absolutamente nada, da falta de medidas continuadas. Já fui xingado e ameaçado por uma horda desses cretinos.

Foi num jogo de futsal. A polícia chegou e eles fugiram, covardes como são. Isto eles são de sobra. Aí passaram a me provocar pela Internet. A mim e ao meu filho. Se tocarem nele, eu mato. Claro, neste caso, serão aplicadas as rigorosas sanções legais e eu vou ser trancafiado, julgado e condenado por ter tirado um pobrezinho do mundo.

Dói a verborragia dos menores sofridos, mal-amados e que precisam do carinho e da proteção pública. Sou filho de preso político massacrado por espancamentos na Ditadura. Porque tinha idéias diferentes. Nunca matou, jamais roubou.

Podem me chamar de fascista, mas sou a favor do que acontece na Itália. Lá, os facínoras são obrigados a, em dia de jogo, se apresentar à polícia e permanecerem detidos durante os 90 minutos. Aqui, se a ação fosse maior que a falação, já se teria um raio-x desta canalhice. E eles estariam no lugar que merecem: uma cela.

Existe uma tropa de elite chamada Bope, Batalhão de Operações Especiais. Formada por homens treinados e preparados para situações de conflito. Há um tempão não vejo falar que o Bope bate num cidadão de bem. Mas basta um cocorote ou cacetada nestas gangues que os "esclarecidos legalistas" condenam a brutalidade policial.

Pedrada no meu tempo era um ótimo centroavante do América. Pedrada agora é sinônimo de assassinato. Em nome de Kaliene Josino, mãe de duas filhas, que morreu aos 18 anos com uma pedrada na cabeça, peço o mínimo de respeito aos homens de responsabilidade. E por me dar a respeito, não vou ao estádio porque cansei de promessas. E não dá gosto comemorar campeonato com um cadáver sobrevoando nossas consciências.

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