Tudo começou num e-mail enviado pelo escritor paulista Rosel Soares para o jornalista Alex Gurgel. Ele queria saber sobre a vida e a obra de Renard, se ainda vivia. Gurgel repassou a mensagem para os integrantes da comunidade do Beco. Rosel Soares pretende inserir o escritor potiguar numa antologia da Editora Casarão do Verbo, de Sampa.
O músico e poeta natalense, Graco Medeiros, que reside há décadas no Recife, entrou na corrente e deu dicas sobre a obra de Renard Perez e lembrou da crônica de Valério publicada no Diário de Natal, há um ano. A teia foi se fechando e novos personagens, sensibilizados com as referências literárias do potiguar esquecido, trataram de reforçar as buscas.
O escritor pernambucano Urariano Mota correu a vasculhar anotações, listas telefônicas e os próprios neurônios da memória. Localizou Perez no Rio de Janeiro, viúvo e morando sozinho, aos 80 anos, com claros sinais de fraqueza provocada por uma velhice de agruras e solidão. Seu e-mail para a turma do Beco da Lama é uma fisgada no nosso amor à terra.
"Caros amigos, muito boas notícias com um acento triste. Primeiro a boa: localizei Renard Perez. Ele mora no Rio de Janeiro (no e-mail seguem telefone e endereço do escritor). Segundo, a nota menos feliz: ele possui hoje 79 anos, perdeu a esposa há cerca de 6 meses, mora sozinho, e se diz sem amigos. Sai raro de casa. Imagino que ele deve estar em depressão".
E prossegue o anúncio de Urariano para os "bequeanos", termo usado entre os integrantes da comunidade. "Não tem e-mail nem quer saber mais disso. O contato com ele só é possível por telefone. Ele ficou muito contente e emocionado por; a) ouvir a voz de um nordestino como a minha; b) saber que o procuram para uma antologia. Recomendo que vão com calma, quando falarem com ele".
A preocupação do e-missivista no contato com Renard Perez, um advogado que militou em espaços como o Correio da Manhã e rádio Roquette Pinto e escreveu análises sobre a obra de Guimarães Rosa, é porque percebeu a voz do velho escritor fraquejando, talvez abalada por um gesto que sua alma cascudiana esperou durante toda uma vida e só agora se manifesta quando a "Moça Caetana" ensaia pisar à soleira da sua porta.
O Rio Grande do Norte, sua sociedade, as autoridades, as lideranças políticas e empresariais não podem ficar ausente desse instante de resgate histórico. Vamos pelo menos uma vez contrariar o estigma de um Estado que há quatro séculos não consagra nem desconsagra seus filhos, como dizia Câmara Cascudo. Que a posteridade de Renard Perez em seu próprio berço seja feita ainda em vida.
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