16 de julho de 2007

Fotografia e Poesia

Fotógrafo desconhecido - 1932

Quando me comeste

Antoniel Campos, Natal RN

quando me comeste
de uma forma como nunca em mim fizeste
ouvi no imperativo os verbos mais sagrados
vem sobe encaixa mete fode

despossuí-me das rédeas que trazia
no máximo fazia
o mínimo necessário
em ti me dissolvia
em ti me misturava
e tu senhora e ama
da cama e do momento
nos volteios que me impunha o teu desejo
deste-me à língua a tua pele
toda ela toda líquida toda nua

levaste as minhas mãos à cabeceira
e no transe hipnótico provocado
juro que senti as mãos atadas

pedias — ou mandavas — que eu gritasse
e eu de olhos fechados sussurrava
meu amor
à peça última que inútil te vestia
— um meia-taça já nos ombros derreado —
levaste à minha boca
e tal como crisálida
dele tu saíste
deixando-o em mim como mordaça
me abraça meu amor, disse, me abraça
subias e descias no compasso certo
sabias e dizias os verbos sagrados
vem sobe encaixa mete fode
e naquela vez per la prima volta
chorei de gozo
quando me comeste

Um comentário:

Moacy Cirne disse...

Boa foto, embora um tanto "artificial". Um abraço.