"Fustigados pela inclemência, os retirantes avançavam para o litoral, norumo das pancadas do mar, naquela estranha e cega aventura da fuga dotorrão nativo..." (Raimundo Nonato, em Memórias de um retirante)
por Clauder Arcanjo
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O mestre Câmara Cascudo, em carta a Enélio Petrovich, presidente doInstituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), aos 11 de agosto de 1977, afirmou: "nobre e linda vida simples e poderosa de exemplo intelectual e moral, em serviço e louvor da Terra e da Gente, nos horizontes permanentes da dedicação incomparável. Levou para as cordilheiras artificiais dos arranha-céus o clima inspirador das serranias legítimas do oeste norte-rio-grandense".
O saudoso Vingt-un Rosado sempre ressaltava nele o homem "vivo, inquieto, trazendo para a história de Mossoró, com memória fotográfica, os grandes e, também, e principalmente, os humildes que ajudaram a construir a nossacivilização".
O escritor Veríssimo de Melo, em "Dois Dedos de Prosa", no jornal A República, edição de 15 de outubro de 1948, alertava que o seu (dele) romance Quarteirão da Fome, que iria ser publicado em capítulos, "já possui credenciais legítimas, opiniões elogiosas de um Gilberto Freyre e de um Câmara Cascudo".
Acerca de Lampião em Mossoró, Edgar Barbosa destacava que ele "merece ser lido pela sua força e expressão de verdade. Quem é juiz e anda às voltas com criminosos, sabe que Lampião não podia fugir ao instinto de atacar Mossoró, na esperança de ser lá recebido como uma espécie de general do deserto. Sua carreira de três dias, de fronteira em fronteira, pode ser considerada uma gesta, uma proeza de Rolando Caboclo. Mas, quem o ajudou, foi, sobretudo, o desaparelhamento do governo, que se revelou inepto para derrotar o 'comando' do Rommel de chapéu de couro. Mossoró, por si mesma, é que reagiu, o elemento civil mobilizado, de improviso, é que se mostrou de peito aberto, nas trincheiras, nas torres das igrejas, nas casamatas de fardos de algodão - e, sobretudo, na disposição de não entregar a cidade ao vandalismo dos Jararacas".
O escritor e compositor Vinicius de Morais escreveu um artigo no Correio da Manhã, aos 14 de maio de 1955, comentando, também, Lampião em Mossoró, ressaltando nele a "soma apreciável de documentos, sobretudo jornais da época, reproduzindo com todos os pormenores o que foi o cerco de Mossoró".
Dorian Jorge Freire o intitulou "O retirante de boa memória", ao ler o clássico Memórias de um retirante. A mesma obra recebe da poetisa e cronista Myrian Coeli uma memorável resenha, onde ela afirma categoricamente: "É uma história de um homem que venceu todos osobstáculos que se lhe antepunham e que, para relatá-los na separação do tempo, põe uma dose de humor na apreciação de fatos e de personagens".
E suas obras foram saudadas, também, por nomes como Hélio Galvão, Mauro Mota, Valdemar Cavalcanti, Aderbal de França, Peregrino Júnior, Nilo Pereira, Raimundo Nunes, Sanderson Negreiros, Manoel Onofre Jr., dentre outros.
O poeta Carlos Drummond de Andrade, em missiva a ele endereçada, aos 24 de abril de 1977, comentando Jesuíno Brilhante - O Cangaceiro Romântico, assim se manifestou: "Graças ao seu livro, pude conhecer a história de Jesuíno Brilhante, narrada com apoio em documentação veraz lucidamente analisada".
Estamos no mês do seu centenário, caro leitor, é mais do que hora de rendermos tributo a Raimundo Nonato da Silva. Espírito iluminado, tipo talhado para as grandes ações, parafraseando saudação sua ao abolicionista cearense João Cordeiro.
Raimundo, o Grande, cortou o umbigo em 18/ago/1907, "na frescada chã da Serra do Martins-RN. Desmamado, já taludo, ouviu a sentença 'na terra que tem bom nome quem não trabalha não come'". Foi e venceu, fazendo-se, pela pertinácia, madeira que o cupim não rói; parafraseando o inesquecível sertanista Oswaldo Lamartine.
-Texto publicado no jornal Gazeta do Oeste (Mossoró-RN), caderno Expressão, espaço Questão de Prosa, edição de 12 de agosto de 2007.
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