28 de janeiro de 2008

Diana Fontes - ENTREVISTA

A coreógrafa e diretora teatral, Diana Fontes é um dos nomes mais expressivos na cena teatral potiguar. Diana é natalense e já morou nos Estados Unidos e passou uma longa temporada em Recife estudando teatro. Com uma vasta experiência na direção de grandes altos, Diana Fontes tem no seu currículo os altos "Presente de Natal", em Natal, "Auto de São João Batista", em Assú, "Auto de Santana", em Caicó e em 2006, dirigiu o ”Oratório de Santa Luzia”, em Mossoró.

ALEXANDRO GURGEL
alex-gurgel@oi.com.br

O que mudou com sua saída na coordenação teatral na Fundação José Augusto?
O teatro na FJA vai continuar em boas mãos, com uma pessoa muito competente que é João Marcelino, que ficou com a coordenação do teatro. Inclusive, se chama hoje “coordenação dos altos”. Eu acho que ele está dando prosseguimento aos trabalhos que sempre se fez com os altos.

Você é a criadora do “Presente de Natal”, um espetáculo que acontece há mais de 12 anos durante o período natalino em frente à Pinacoteca do Estado. Há rumores que com sua saída da coordenação teatral da FJA, o espetáculo se acabe. Qual futuro desse espetáculo?
O Presente de Natal foi um projeto concebido a 12 anos atrás, de minha autoria intelectual. Mas, é um projeto institucional do Governo do Estado com apoio do Bando do Brasil. Então, desde o ano passado que a governadora Wilma de Faria garantiu que o espetáculo continuará. O Presente de Natal continuará itinerante somente em Natal, pelos bairros natalenses, como foi em dezembro passado. Em 2006, a peça circulou vários municípios do Estado como Mossoró, Caicó, Currais Novos, Macau, entre outros.


De acordo com o diretor adjunto da FJA, sua saída se deu por “incompatibilidade administrativa” com a atual gestão. Como você ver esse posicionamento da FJA?
Meu problema com a FJA é meramente pessoal. De fato, minhas idéias são totalmente incompatíveis com as de Fábio Lima. O trabalho que a FJA tem hoje não bate com meu pensamento. Meu pensamento na formação teatral de jovens nas Casas de Cultura. Eu ando muito pelo interior e vejo a importância das Casas de Cultura e vejo a necessidade dos artistas. Aliás, eu sempre estou do lado dos artistas. Eu sei o que é quando um artista não tem um espaço para ensaiar, quando não há oportunidade para fazer oficinas que são essencialmente fundamentais. Esse trabalho de formação de atores está sendo feito (ou era para está acontecendo) nas Casas de Cultura.

Pelo fato do diretor adjunto da FJA, Fábio Lima, não ser um artista, prejudica o entendimento com a classe?
O PT sempre foi muito ligado ao artista e a gente vibrou muito quando surgiu o nome de Crispiniano dentro do PT. Eu falo por mim. Fiquei muito triste em ver que existe muitos entraves burocráticos criados pelo partido que estão prejudicando os artistas. O problema que está havendo na FJA é que o PT está discutindo muito e nunca chega a uma conclusão. Agora, fez um ano e nada acontece de cultura nessa gestão. Para o que os artistas estavam esperando em relação a postura do PT, 2007 houve pouquíssima produção artística.

Quando você estava na FJA, você cobrou ações, mas não foi atendida?
Olhe, a FJA está demorando muito para atender aos projetos. Só para você ter uma idéia, no ano passado, eu passei mais de um mês para mostrar o projeto do “Alto de São João”, na Serra de Santana, debaixo do braço para enviar para apreciação. Eles não perceberam que os espetáculos há um tempo hábil para que a produção vá atrás das coisas para viabilizar o projeto. Ninguém pode esperar quase dois meses para poder apresentar um projeto. E ele quase não saia por causa da burocracia. Se não fosse a secretária de articulação dos municípios, Fátima Moraes, não teria conseguido. Então agente brigou muito e o projeto saiu. Foi ai que começou a gerar o estresse com a FJA. Eu trabalho com Autos e com Casas de Cultura há vários anos e sempre consegui fazer as coisas independente de governo. O PT está burocratizando a instituição. Acho que o governo está fazendo um belo trabalho na área de cultura, principalmente no interior, mas a Fundação passou esse primeiro ano parada.

Essa sua “incompatibilidade administrativa” mudou sua visão sobre a atual administração da FJA?
A Fundação virou uma coisa quixotesca. Não há valorização dos funcionários mais antigos. Parece que só quem é considerado são as pessoas do partido. O PT é aliado do governo ou a Fundação é uma cédula do partido? Continuo sendo governo, vou tocar meus projetos, fui contratada pelas prefeituras de Florânia e Angicos para contar a história desses municípios. Mas vejo que a Fundação, hoje, é um entrave burocrático. Espero que João Marcelino consiga organizar os autos em 2008.

Quais são seus planos para levar o teatro para o interior do Estado?
Eu estou fora da FJA, mas minhas idéias não. Ainda mantenho uma parceria com o Governo do Estado e estamos fazendo vários projetos para levar teatro para o interior do Rio Grande do Norte.

Qual o futuro para o teatro potiguar?
Acho que a cultura, de uma forma geral, é muito ágil e esse negócio de burocratizar não combina com o ato de fazer cultura. Temos bons atores e o teatro tende a crescer. Independente dos órgãos oficiais de cultura. Nosso teatro vai muito bem e a tendência é melhorar. Para você ter uma idéia, o teatro em Açu estava esquecido. Mas, hoje o “Alto de São João Batista” acontece há três anos e é produzido por artistas e atores do próprio município. Nada feito com muito dinheiro. Somente o conhecimento e a vontade de fazer. Não se chega nem perto do orçamento dos altos feitos em Mossoró, que faz um trabalho maravilhoso. Em Caicó, depois do alto “Terra de Santana” já foi criado o “Boi de Prata” feito pelos próprios artistas caicoenses.

Você acha que deve haver a valorização da mão-de-obra de artista local quando se faz um espetáculo numa cidade do interior?
Claro que sim. Em Assú, nós trabalhamos com 54 pessoas no elenco, só duas eram de Natal Isso acontece até para possibilitar uma integração entre os artistas da capital e do interior. Nós fazemos oficinas, preparamos as pessoas que até o momento não tinham nenhuma experiência cênica. Na parte de figurino e adereços também existe a participação da comunidade. Sempre levamos alguém de Natal, ou mesmo de Mossoró, para ensinar o ofício.

Quais os maiores desafios que a classe artística enfrenta para a montagem de espetáculos, seja os grandes eventos ou pequenas peças?
Eu acho que é ter consciência cultural das pessoas que têm o poder na mão. A cultura está na mão das grandes empresas e elas só investem em grandes eventos. Acredito ser necessária a criação de um Fundo de Incentivo à Cultura, para financiar montagens pequenas, fomentar a cultura e a formação de mão-de-obra.

Como diretora teatral e produtora de peças, como você vê o teatro mossoroense?
Mossoró vai muito bem. Mossoró tem um apoio muito bom do Pode Público. A cidade realiza três grandes eventos teatrais por ano. Mas, uma coisa que está preocupante são exatamente os grandes eventos. Mas, estão esquecendo de formar a base e toda a verba está sendo destinada para os grandes altos. O que pode ocorre é que esse monte de artista pode ficar sem a preparação adequada. Tem que ter investimento também em auxílio montagem para que os grupos possam fazer seus trabalhos individuais. Mas, a cultura teatral em Mossoró é muito forte.
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Entrevista publicada no jornal O Mossoroense

Um comentário:

Sérgio Vilar disse...

Grande entrevista, Alex. Com uma leve pressão, Diana - excelente pessoa - deixou clara a burocratização da FJA, agravada na atual gestão. Realmente este ano nada foi feito. E nada como uma pessoa honesta, competente e sem meio termo pra falar isso.

Abraço!