6 de março de 2008

Um Seridó para turista besta ver

ARTIGO

Abimael Silva - Sebista e Editor

Mais uma vez a Cosern gasta um bom dinheiro público, R$ 94.000,00 (noventa e quatro mil reais), via Lei de Cultura, com um livro de conteúdo fraco e inverídico. O livro em questão é “Seridó - Paisagens de um Sertão Encantado” do artista plástico, fotógrafo e designer gráfico Fernando Chiriboga, edição bilíngüe, tipo exportação.
-
Há poucos dias comprei o citado livro por R$ 60,00 (sessenta reais), em uma livraria da cidade e fiquei impressionado com o excesso de erros absurdos em muitas de suas 130 páginas. Erros históricos e geográficos.
-
É visível a falta de humildade do autor, quando quis fazer um livro histórico sozinho, com os “pitacos” que são próprios de um guia turístico. Ninguém consegue fazer sozinho um livro desse quilate. No mínimo, ele tinha que ter escutado Bezerrinha, o taxista historiador de Acari ou Muirakitan Kennedy de Macedo, o genial pesquisador caicoense.
-
Logo na apresentação, o autor diz que “percorreu quase quatro mil quilômetros de várias cidades e suas igrejas”. Mesmo percorrendo todos esses quilômetros, Chiriboga esqueceu os municípios de Jucurutu, Lagoa Nova, São Fernando, São Vivente, Tenente Laurentino, Ipueira e São José do Seridó. Portanto, é um Seridó pela metade!!
-
O autor não soube separar o joio do trigo e acabou se perdendo, dando importância a coisas sem futuro, e esquecendo a verdadeira história.
-
Fotografou uns sapos em uma gruta de Caicó e esqueceu que a nascente do Rio Potengi fica em Cerro Corá. Fotografou dois vaqueiros em Acari e escreveu a bizarra legenda: “Tropeiros seridoenses em suas indumentárias típicas”. A pequena legenda tem dois erros gigantes: vaqueiro não é tropeiro e não estão em suas indumentárias típicas, pois tem um vaqueiro com boné de surfista!
-
Nas primeiras páginas, o autor diz que o Seridó tem Cânion em Currais Novos. Não precisa ser autoridade em geografia para saber que o Rio Grande do Norte não possui cânions.
Na página 56, Chiriboga fotografou um aguapé no Rio da Cobra, em Jardim do Seridó e legendou dizendo ser uma Vitória-Régia. No dia em que a Vitória-Régia chegar ao Seridó, a profecia do sertão virar mar terá se concretizado.
-
Na página 70, tem um pé de algodão seco, com um resto de lã que não foi colhida, com os dizeres: “Flor do Algodão”. Qualquer criatura com três, cinco neurônios, sabe que primeiro vem a flor e só depois, muito depois, o fruto.
-
O que o livro tem de sobra é a ausência da alma seridoense. Faltou a culinária da região, apesar do autor dizer que desfrutou da hospitalidade seridoense e de sua comida simples e saborosa; faltou o preparo do chouriço, da carne de sol, dos cozidos que só o seridó faz. Faltou a história escrita pelos filhos da região: Olavo de Medeiros Filho, Juvenal Lamartine, Paulo Bala, José Bezerra Gomes, Dom José Adelino Dantas, Oswaldo Lamartine de Faria, Muirakitan Kennedy de Macedo, Pery Lamartine, Moacy Cirne e João Medeiros Filho, para citar apenas dez clássicos. Faltou um close do Tungstênio, o Copacabana Palace do Seridó.
-
Faltou uma frase forte, com a grandeza do seridó, tipo o que disse José Augusto Bezerra de Medeiros: “Depois de Paris e Rio de Janeiro, Caicó é a mais bela cidade do mundo”.Faltou também um click no cotidiano de cada cidade. Um dia de feira, por exemplo; uma foto com o seridó chuvoso ou nublado, seria o máximo!!!
-
Não sei por qual motivo, o livro tem 14 páginas com quatro fotografias, como um álbum de figurinhas sem futuro.
-
No final, como se tivesse querendo ficar de bem com Santana, Chiriboga fotografou “todas” as igrejas da região e, mais uma vez, fez o serviço pela metade, esquecendo Florânia, Jucurutu, São Vicente, Tenente Laurentino, Cerro Cora, Lagoa Nova, São Fernando, Jardim de Piranhas, Ipueira e São José do Seridó.
-
Do jeito que o livro foi produzido, todos perderam. O autor, que não soube aproveitar uma idéia brilhante e demonstrou não saber quase nada da história do RN; a Cosern que, mais uma vez, utilizou mal muito dinheiro do erário e nós, leitores, que aqui e acolá compramos gatos por lebres.

Um comentário:

Pedro Lucas disse...

Muito legal e certo o texto de Abimael. Um caba ter moral pra tentar fazer um livro de fotografias como explorador e se metendo a verdadeiro doutor na área que vai lidar é verdadeiramente algo para se rir.