10 de maio de 2008

Luis Carlos Maciel - ENTREVISTA

Entrevista de Luiz Carlos Maciel dada a Lívio Oliveira.

Até que ponto o Pasquim ainda perdura como símbolo de rebeldia e de busca de transformações? Há como considerá-lo como um parâmetro ainda para a contemporaneidade? Há algo que se assemelhe, nos efeitos sociais, culturais e políticos, nos dias atuais? O Pasquim é um jornal "que não terminou"?
O Pasquim é um fenômeno histórico, uma expressão de sua época. Por isso tem servido para assunto de teses universitárias e muitos livros. Não é parâmetro para nada, nada dos dias atuais se assemelha a ele, em quaisquer efeitos e, finalmente, não é um jornal que não terminou.
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Os anos sessenta e a contracultura nos trouxeram ensinamentos válidos?
Trouxeram para mim, sem dúvida. Quanto aos outros, não sei. Depende de cada um. Alguns aprendem com o que vivem, outros não. A maioria aparentemente não aprende nada. Eu pessoalmente te garanto que aprendi muito e, portanto, declaro solenemente que os anos sessenta e a contracultura nos trouxeram ensinamentos pra lá de válidos!
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O jornalismo, a literatura e a poesia tem algo novo a mostrar? E aMPB?
Sempre tem. As vezes não é da mesma qualidade do que foi mostrado antes ou do que será mostrado depois. Cada momento tem seus valores, suas glórias, suas limitações, seus horrores, etc. Pessoalmente, não acho que o que está se fazendo hoje seja particularmente interessante. Mas também pode ser porque estou ficando cada vez mais velho.
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Que caminhos a internet pode oferecer à cultura? Existeuma "literatura eletrônica"?
Acho que muitos caminhos, a internet é um veículo com um alcance que não podia ser imaginado há algum tempo atrás. Esse espaço pode criar coisas até imprevisíveis, quanto mais apenas uma literatura eletrônica, isso é o mínimo...
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O jornal impresso manterá mercado nos dias que chegam?
Claro. Inventa-se muita coisa no mundo mas nada que substitua nada. As novidades apenas se acrescentam ao que já existia. O mundo é uma acumulação incessante. Os jornais continuarão, talvez vendam menos mas continuarão.
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A televisão cumpre um papel imprescindível? Como você tem visto a"espetacularização" da mídia, com casos (por exemplo) como o da menina Isabella?
O papel da televisão não é imprescindível, nada é. A tal espetacularização da midia é mais uma manifestação da alienação sutil mas crescente, avassaladora, que domina nossa sociedade.
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O humor é essencial à nossa sociedade? Qual o seu espaço? Qual oseu valor?
O humor é essencial para cada um de nós, a vida não tem graça sem humor.
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O governo Lula preserva os valores da esquerda? Cumpre, minimamente, os sonhos propagados nos anos 60?
Se Lula fizesse força pra preservar os valores de esquerda e cumprir os sonhos propagados nos anos 60, já teria sido seriamente desestabilizado e certamente derrubado. Mas não fez nada disso, fez política clássica, atividade para qual tem um talento excepcional. Costurou acordos com todos os setores da sociedade, a começar pelos mais ricos, mas sem esquecer os mais pobres, e aí estão os resultados. A economia prospera, as pesquisas dão a ele alta avaliação popular, está mais forte do que nunca. A oposição foi reduzida à impotência, embora descubra um escândalo por semana.
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Que papel a universidade tem ou terá na construção dasinteligências brasileiras? Como você vê a classe estudantil atual nasua interação com a sociedade e com os atores políticos?
Não vejo maiores diferenças entre o que acontecia em outros tempos e o que acontece hoje. A univesidade cumpre seu papel, a classe estudantil faz o que tem vontade. Acho que a universidade está mais aberta e a classe estudantil mais fechada. Ironias da vida...
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Sob que ângulos de visão se encontra a atividade política, atualmente? A atividade político-partidária merece algum respeito?
Política partidária é pura fofoca, sempre foi.
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Led Zeppelin ou Chico Buarque? Janis Joplin ou Tom Jobim? Ambos?
Ambos e muitos outros.
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O que há de novo sob o sol, fora do eixo Rio-São Paulo?
Nada, nem no eixo Rio-São Paulo.

Um comentário:

Mayara Costa disse...

Caro Alex, essa entrvista que vc publica me fez lembrar de uma situação recorrente: As Casas de Cultura espalhadas pelo nosso estado. Nesta entrevista um dos pontos que vc ressalta é a instalação de novos pontos de cultura, tudo bem ótima intenção do nosso ministro. MAs pelo que acompanho nas Casas de Cultura de Currais Novos e Santa Cruz ocorre o desconheicmento de como utilizar os espaços. Os prédios são construídos mas o pessoal que lá trabalha não tem articulação suficiente para "fazer funcionar" as Casas. Não basta criar o local, mas também qualificar as pessoas para saber como usá-los.