20 de junho de 2008

Artistas do Gargalheiras

Além do tradicional artesanato feito de renda, tapeçaria e bordado, Acari tem grandes artistas plásticos, criando peças únicas que saltam os olhos dos marchantes atentos e colecionadores de arte. O santeiro Ambrósio trabalha a madeira onde Nossa Senhora de Santana é esculpida em todos os detalhes, como se seus pecados fossem redimidos pela santa. Ambrósio também reforma móveis coloniais, oratórios barrocos e outros santos.
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Juntando sucatas e metais velhos, o ferreiro Dimauri transforma o ferro retorcido em esculturas expressionistas, apresentando imagens do sertão em sua arte. No seu atelier, o visitante pode apreciar esculturas de ferro mostrando as cenas do cotidiano sertanejo: um carro de boi carregando um agricultor e uma criança, um vaqueiro derrubando o boi no meio da caatinga ou uma família reunida em torno da mesa de jantar, entre outras peças.
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Transformando rochas em arte, o escultor Dimas Ferreira trabalha as margens do Açude Gargalheiras, onde encontra a pedra bruta de granito para suas esculturas. Nascido e criado em Acari, Dimas aprendeu a fazer sua arte quando trabalhava como “quebrador de pedras” para fazer paralelepípedos. “Um dia vi uma pedra que dava para fazer uma cabeça de gente. Fiz e deu certo”, confessa.
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Em junho de 2006, Dimas Ferreira ganhou o Prêmio Cultural Diário de Natal, recebendo o troféu “O Poti” no palco do Teatro Alberto Maranhão, em Natal, pelo reconhecimento de sua obra. “Eu não esperava ganhar o prêmio, fiquei muito feliz. Agora, vou trabalhar mais animado”, disse o escultor, prevendo o aumento das encomendas. O artista fica feliz em dizer que sua arte está em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Natal e até na Europa.
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Dimas é um autodidata. Há 16 anos no ofício, ele nunca tinha visto ninguém esculpir peças em outros materiais. Por sua atividade incomum, o artista é obrigado a confeccionar suas próprias ferramentas de trabalho. Com base no formato que tem a pedra, Dimas vai esculpindo o granito, buscando formas de animais ou pessoas. Com uma vasta clientela, o artista afirma que não tem dificuldade para vender suas peças. “Se eu fizesse uma peça por semana, tinha comprador pra ela. Hoje, tenho muitas portas abertas”, enfatizou.
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Em outubro do ano passado, Dimas levou um São Francisco das Chagas esculpido na rocha bruta do Gargalheiras para Brasília, a convite do senador Garibaldi Filho, a fim de participar da terceira edição da exposição “Artistas Brasileiros – Novos Talentos”, no Salão Negro do Congresso Nacional. A exibição contou com esculturas de artistas de todas as regiões brasileiras, indicados pelos parlamentares de seus respectivos Estados.
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Quando abordado pela reportagem da revista Papangu, debaixo de um sol escaldante, o artista trabalhava numa escultura de um Lampião, em tamanho natural, que lhe empenhava o trabalho de cinco meses. Seu atelier é na beira do Gargalheiras, onde ele castiga a rocha gigantesca e bruta, sob o sol escaldante da caatinga, esculpindo detalhes com ferramentas grosseiras para um trabalho tão delicado, cheio de detalhes.

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