3 de julho de 2008

Lei é Lei

CRÔNICA

por Leonardo Sodré, in Beco Press

Ele trabalhava de domingo a domingo. Era padre de uma cidade do interior e tinha que atender vários distritos, principalmente nos finais de semana, quando presidia no mínimo umas seis missas por dia. Somente no início da noite voltava para casa, ainda meio azedo de tanto vinho doce que tomava por causa do ritual católico.

Além das missas ainda era obrigado a ouvir confissões, fazer batizados, casamentos e atender as mais diversas pessoas em busca de conselhos, de uma benção. Enfim, um trabalho pastoral intenso. Ele viajava de uma capela para outra dirigindo o seu próprio carro.

Tinha ficado feliz com a nova Lei que penaliza fortemente quem bebe e dirige nas cidades e estradas. Calculou que o número de mortes trágicas iria diminuir muito em todo o Brasil, e agradeceu a Deus no primeiro sermão que fez após o anúncio da medida tomada pelo governo.

Sabia que a Lei estava desagradando muitos homens que bebiam moderadamente, mas calculou que eles entenderiam os efeitos positivos. Um dono de bar chegou a procurá-lo para abençoar uma velha Kombi que iria ser usada para transportar bêbados. “A minha ‘Kombêbado’ vai fazer o maior sucesso na cidade”, disse excitado. Devidamente molhada por água benta e muitas orações para que fosse bem usada, a Kombi partiu para recolher a primeira carrada de papudinhos.

Naquele domingo ele vinha cansado na BR. Dirigia devagar, mas um farol queimado chamou a atenção de policiais rodoviários que mandaram parar o carro ao longo do acostamento. Enquanto mostrava os documentos os policiais notaram o forte cheiro do vinho doce de missa e imediatamente submeteram o padre ao bafômetro.

-O senhor está dirigindo com alta quantidade de álcool no organismo. O senhor e sua carteira de motorista estão presos.

-Mas eu tomei o vinho por obrigação... Argumentou.

-Ora meu amigo, onde já se viu beber por obrigação. Fique calado e entre ai no camburão.

-Mas eu sou padre! Disse, enquanto se acomodava na traseira do camburão da Polícia Rodoviária.

Os policiais olharam um para o outro, enquanto se acomodavam no banco dianteiro do veículo. Lá dentro explodiram em gargalhadas.

-Eu já ouvi todo tipo de desculpa, mas essa de ser padre foi à primeira...

Nenhum comentário: